Um padre “naturalmente revolucionário”
José Martins Júnior deu uma entrevista ao DIÁRIO em Abril de 2018
“Quando S,Exª.Rev.mª D, Francisco Santana me suspendeu eu já não era deputado. Foi outro o motivo circunstancial: Tendo sido eu convidado para padrinho de um crismando na igreja matriz de Machico, Sua Ex.ª Rev.mª não mo permitiu e até exigiu que eu saísse imediatamente do templo. “Enquanto não saíres, eu não começo a cerimónia. E se não saíres. eu suspendo-te a divinis”. E assim aconteceu.”
O relato é assinado pelo próprio Padre Martins, no seu blogue ‘Senso e Consenso’, num post datado de 3 de Dezembro de 2018, altura em que foi emitido o programa ‘Vidas Suspensa’ na SIC. No mesmo texto recorda que já não era deputado quando foi suspenso e que ao longo dos anos, sempre lutou para que a esta situação fosse revogada.
A verdade é que este é um caso que, ao longo dos anos, mereceu sempre destaque mediático. Na mais recente entrevista ao DIÁRIO, em Abril do ano passado, assumia-se como “naturalmente revolucionário, admitindo que “questionar a ‘desordem estabelecida”, está no seu ADN.
Essa tendência para questionar fez com que fosse primeiro desterrado para o Porto Santo, depois para Moçambique, em plena Guerra do Ultramar. Depois, quando regressou à Madeira, foi para a Ribeira Seca. Estávamos em 1969. “Eu amo este povo e entreguei-me a esta causa. O povo da Ribeira Seca hoje é visto sobre a óptica de um povo revolucionário, mas antes era um povo marginalizado. Se houve povo que viveu o 25 de Abril intensamente foi o povo da Ribeira Seca, porque eles sentiram na pele o que era o regime de colonia. O povo revoltou-se e não era preciso ninguém que o estimulasse. Eles é que me ensinaram a ser revolucionário, a percorrer os caminhos necessários para a sua libertação. Era também a minha classe. A classe proletária, à qual tenho muita honra de dizer que pertenço. Há muita gente do clero, que esquece as suas raízes, mas eu não me esqueci das minhas”, contou na entrevista à jornalista Erica Franco.
Na mesma conversa, dizia que “aqui na Madeira, a Igreja foi uma serventuária do Fascismo. A altura privilegiada para a Igreja prestigiar-se era exactamente no pós 25 de Abril, mas também não aconteceu... Temos aí autênticos aprendizes de feiticeiros da política vigente”, acusou sem dar nomes e acrescentou que “sendo padre também fui político. Mas fui político sempre anti-ditadura, anti-totalitarismo, anti-exploração.”
Nascido em 1938, na Banda D’ Além, em Machico, José Martins Júnior, mais conhecido por Padre Martins, foi pároco, político, professor, capelão na Guerra do Ultramar e uma figura incontornável e controversa no panorama político e religioso da Madeira.
Foi suspenso ‘ad Divinis’ a 27 de Julho de 1977, mas manteve-se na Ribeira Seca, sempre acarinhado pelo povo. Agora, quase 42 anos depois, a suspensão foi levantada por D. Nuno Brás e José Martins Júnior foi nomeado Administrador da ‘sua’ Paróquia.