Madeira

D. Nuno Brás pede “elevação” na campanha eleitoral e lamenta “ataques pessoais” e “calúnias”

Foto Jorge Freitas Sousa
Foto Jorge Freitas Sousa

A homilia do Bispo do Funchal, na Festa de Nossa Senhora do Monte, contrastou com as do seu antecessor por abordar, de forma directa, a vida dos madeirenses e o momento político que a Região vive.

D. Nuno Brás começou por falar de Nossa Senhora, mas foi claro ao lembrar que os cristãos não se podem limitar à liturgia.

“Não nos peçam, por isso, a nós cristãos, que fiquemos confinados às realidades espirituais. Não nos peçam nunca para nos esquecermos da vida dura, do trabalho, da política, ou até do divertimento. Não nos peçam para calar a verdade do homem na moral, quer dizer, em tudo o que diz respeito às escolhas que sempre temos que realizar”, afirmou, numa Igreja do Monte completamente cheia.

O bispo considera que os cristãos não têm apenas o direito “como o dever de falar, de lutar por uma sociedade sempre mais plenamente humana, por relações entre as pessoas em que todos possam ser respeitados na sua dignidade”.

Modos de existência que, sublinha, não podem cair em soluções fáceis. “É mais fácil abortar uma criança que cuidar dela, é mais fácil matar, eutanasiar, um doente ou um idoso que cuidar dele”.

D. Nuno Brás foi mais longe e abordou, de forma directa e clara, as eleições que se realizam a 22 de Setembro (regionais) e 6 de Outubro (nacionais).

“Dentro de dias a nossa ilha vai entrar num período eleitoral, sempre decisivo para a sua vida como sociedade, como autonomia e como parte naturalmente integrante do todo nacional português”, começou por referir, num apelo ao voto e à participação.

“Todos somos chamados a votar, e é importante que todos participem na escolha daqueles que desejamos fiquem à frente da nossa região e do nosso país por um período de 4 anos . Aqueles que hão-de fazer as leis que nos governam, aqueles que hão-de administrar o dinheiro comum proveniente dos impostos que pagamos, aqueles que, em nosso nome, hão-de escolher os caminhos que todos havemos de percorrer nestes próximos anos”, concretiza.

Uma escolha eleitoral que, diz, deve ser feita “tendo em conta a dignidade de todo o ser humano e os valores cristãos que, desde sempre, dão forma ao nosso viver madeirense e português”.

O Bispo do Funchal, na sua primeira homilia na maior festa católica da Região, também se dirigiu aos partidos e aos candidatos.

“Durante a campanha eleitoral, os candidatos mostrarão legitimamente os seus programas, o que os diferencia dos demais, aquilo que se propõem realizar e aquilo por que irão lutar caso sejam eleitos. É a vida democrática, conquista preciosa da nossa civilização”.

Uma democracia que faz corresponder a cada adulto um voto. “O mesmo é dizer que reconhece a mesma dignidade a todos os cidadãos adultos de um país, quaisquer que eles sejam, que não os diferencia pelo dinheiro que possuem, pelas capacidades que têm ou pela sua notoriedade, mas que a todos iguala pelo facto de serem seres humanos, cidadãos na posse plena das suas capacidades”.

Mais crítica é a posição de D. Nuno Brás perante a campanha eleitoral.

“Nos últimos tempos, mais que mostrar as suas propostas para a Região e o País, as campanhas eleitorais têm, infelizmente, sublinhado os ataques pessoais, a desvalorização do outro candidato, por vezes mesmo até através de calúnias”, lamenta.

Por isso, deixa um apelo aos candidatos: “Que este tempo de campanha eleitoral possa ser um tempo e um espaço de civilização”.