Madeira

“A Madeira tem um lado A e um Lado B”

Painel sobre Coesão e Desenvolvimento Territorial contou com a participação de Paulo Cafôfo e do ministro do Ambiente

Foto Helder Santos/Aspress
Foto Helder Santos/Aspress

Num debate moderado por João Figueira de Sousa, especialista na área dos transportes, no qual este começou por lembrar que o conceito de coesão territorial é crucial para o desenvolvimento ambiental, qualidade de vida, acessos a serviços e conhecimento, eficiência energética, à competitividade, atractividade, acessibilidades e à continuidade territorial, temas que lançou a debate de um dos painéis da II Convenção Estados Gerais do PS-Madeira, composto por Paulo Cafôfo, José Reis, da Universidade de Coimbra, e João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Transição Energética.

Entre os oradores, José Reis começou por dizer que espera que a alternância política se faça sentir na Madeira, tal como aconteceu no país com a “solução tão imaginativa” como aconteceu há três anos. Defendeu que a consciência da coesão territorial como método importante do desenvolvimento, tema que é antiga e surgiu na Europa nos anos 90, embora reconheça que também fruto do que se fez hoje estejamos com uma senda de liberalismo desgovernado. Este professor de economia, aliás um dos mais reputados do país, reconheceu que hoje, embora ainda acredite numa visão positiva, “temos na Europa uma arquitectura muito diferente e disforme, determinados pelas questões financeiras e económicas, que desvirtuam os princípios da coesão territorial”, lamentou. E terminou: “A Europa não tem política de coesão, tem o que se chama especialização inteligente.”

O actual presidente da Câmara do Funchal e candidato do PS-Madeira a presidente do Governo Regional defendeu que quer uma Madeira em que a população tem voz activa nas decisões e que não seja tudo feito por uns iluminados, seja em que área for, mas nesta questão de coesão territorial, temas caros à Madeira, é preciso que sejam estratégicas e pleneadas.

Num território pequeno, mas com diversas realidades, diversos sotaques, muitas assimetrias regionais e desigualdades sociais, destacou que as políticas públicas têm de se centrar na sustentabilidade social, ambiental e cultural que devem ser tratadas por si só. “É verdade que esta região se desenvolveu sobretudo com dinheiro da União Europeia”, disse Paulo Cafôfo, mas não basta, tem de se saber onde derramar dinheiro, pois esbanjar não trás desenvolvimento, apenas cria mais disparidades. Há uma desvitalização do nosso território, com incidência no despovoamento, envelhecimento, empobrecimento e só empregando meios e recursos e envolver todos nesse trabalho será possível recuperar a coesão territorial do território madeirense”.

Ter saúde de qualidade, educação, saúde, ambiente e acção climática, inovação e infraestruturas, redução de desigualdade são algumas das áreas a actuar. Lembra Paulo Cafôfo que 80% da população madeirense vive em quatro concelhos, que a população regional diminuiu mais de 4% excepto em Santa Cruz, que a densidade populacional está centrada no Funchal e os dois concelhos vizinhos, que o envelhecimento populacional está mais a norte. A Madeira tem um lado A e um Lado B. A finalidade futura é que a música seja tocada a um só ritmo, para uma maior coesão territorial, disse.

Por fim, o ministro do Ambiente, a primeira palavra que lhe apareceu quando preparava o debate é risco, numa dimensão do território que é factual devido às alterações climáticas pela sua dimensão insular, e também pela sua posição geoestratégica dos madeirenses emigrados nomeadamente na Venezuela, África do Sul e Reino Unido, pela grande instabilidade política actual de cada um desses países. Riscos que reforçam a necessidade de a Madeira ter um governo regional com medidas concretas na ética da convicção, pela necessidade de fazer as opções certas nas suas relações e alianças, a nível da República e a nível da região da Macaronesia, disse João Pedro Matos Fernandes.

É importante que a Madeira entenda e consiga trabalhar em conjunto com as outras regiões do Atlântico que lhe estão mais próximas, nomeadamente porque sabe que tem no turismo uma palavra a dizer no que toca à qualidade, frisou Matos Fernandes, que urgiu que é crucial encontrar formas de diversificar a sua economia. A outro nível, instou que há necessidade de depender menos das importações e da autonomia energética no sentido de equilibrar a balança da sua economia.