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Explicador Madeira

A abordagem minimamente invasiva da cirurgia robótica

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Foto SESARAM

Está quase a fazer um ano, desde que o Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira passou a contar com o apoio do ‘Robot Da Vinci Xi’ nas cirurgias. Foi através de um investimento de cerca de 2,5 milhões de euros, no âmbito do PRR, que a cirurgia robótica chegou à Região.

Mas, afinal, quais sãos as vantagens da cirurgia robótica?

A cirurgia robótica é uma cirurgia minimamente invasiva, numa abordagem que conjuga a cirurgia laparoscópica, toracoscópica ou outra técnica de cirurgia minimamente invasiva tradicional, à utilização de um dispositivo robotizado. No SESARAM, a intervenção do ‘Robot Da Vinci Xi’ teve início nas áreas cirúrgicas de urologia, cirurgia geral colo-rectal, ginecologia, cirurgia geral esófago-gastro e cirurgia torácica.

Esta técnica permite ao cirurgião realizar a operação ao manipular manualmente os comandos da consola cirúrgica, colocada na sala de operações, e o sistema transforma, de forma exacta, esses gestos nos movimentos dos braços robóticos. O cirurgião realiza este procedimento guiado por uma imagem tridimensional do local da intervenção, em alta-definição e presente no seu campo de visão natural.

Os braços robóticos articulados e interactivos, respondem em tempo real aos comandos do cirurgião. Desta forma, replicam com uma precisão extrema os movimentos dos seus punhos, mãos e dedos, mas numa escala apropriada à dimensão reduzida dos instrumentos cirúrgicos que lhes estão acoplados.

O acesso dos instrumentos cirúrgicos ao campo operatório é feito através de pequenas incisões na parede corporal, designadas portas. Contudo, enquanto na cirurgia minimamente invasiva convencional, o cirurgião manipula esses instrumentos directamente, no caso da cirurgia robótica, são os braços robóticos do corpo do sistema que o fazem, sob o comando do cirurgião na consola.

São necessárias apenas algumas portas, geralmente entre três e cinco. As dimensões destes orifícios variam entre os 5 e os 10 milímetros. Uma das portas permite a introdução de um videoendoscópio (de 5 a 10mm de diâmetro), enquanto as restantes permitem a introdução de instrumentos cirúrgicos, sejam eles pinça, tesoura, entre outros; desenhados especificamente para este tipo de cirurgia.

A interação entre o cirurgião e a sua equipa é facilitada por um microfone na consola, por um sistema de amplificação de som e pelos monitores da sala que transmitem a mesma imagem do campo operatório que o cirurgião vê na consola. Durante a operação, o ajudante do cirurgião e o enfermeiro instrumentista mantêm-se sempre junto do doente. Assistem o cirurgião na escolha e mudança dos instrumentos, bem como na sua ligação aos braços robóticos ou na realização de outras tarefas necessárias.

O sistema cirúrgico Da Vinci possui múltiplos sistemas de segurança, não pode ser programado, nem toma decisões por si. Cada manobra exige uma contribuição directa do cirurgião e durante uma operação, o sistema realiza diversas verificações de segurança. Se houver uma falha de corrente ou de uma verificação de segurança, o sistema permite ao cirurgião manter o controlo total da intervenção.

A cirurgia robótica apresenta como principais vantagens sobre a cirurgia aberta, todos os benefícios já conhecidos da cirurgia minimamente invasiva. São eles menor dor no pós-operatório, menor sobrecarga e melhor resposta do sistema imunitário, recuperação geral mais rápida, regresso mais rápido à actividade profissional, menor incidência de infecções, menor, incidência de hérnias incisionais, e cicatrizes operatórias pouco visíveis.

Ainda assim, a cirurgia robótica tem características técnicas que aumentam a segurança dos procedimentos e potenciam as vantagens que a cirurgia minimamente invasiva convencional tem para os doentes. A definição de imagem é superior e a imagem é tridimensional; a interface digital filtra o tremor natural e aumenta a precisão dos movimentos do cirurgião; a posição relativa entre o cirurgião, o campo de trabalho e os instrumentos cirúrgicos é potencialmente perfeita.

Para além disso, os braços robóticos rodam em torno de um ponto fixo na parede, reduzindo a tensão traumática sobre a mesma, o que deverá resultar em ainda menos dor no pós-operatório. A liberdade de movimentos dos instrumentos é grande e replica os movimentos potenciais do punho humano, a dissecção dos tecidos e a identificação dos planos anatómicos naturais faz-se com mais facilidade e melhor definição, e as suturas manuais são mais precisas e mais seguras.

Cirurgia robótica na Região

Foi a 24 de Outubro de 2024 que foi inaugurada a sala exclusiva para cirurgia robótica, no que passou então a ser chamado por Bloco do Ambulatório e Robótica, no Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal. O ‘Robot Da Vinci Xi’ envolveu um investimento de 2.560.780 euros, beneficiando de financiamento comunitário do Plano de Recuperação e Resiliência, através do subinvestimento ‘C01-i05.02 - Reforçar as respostas na área da saúde mental e das demências associadas ao envelhecimento’, contratualizado com o Serviço de Saúde da RAM.

Terminado o programa de formação das cinco equipas, para cada uma das áreas de intervenção, foram realizadas as primeiras cirurgias robóticas na Região. O programa contou com formação na consola do próprio robot (para os cirurgiões) e com formação em bloco para todos os elementos da equipa (enfermagem, cirurgiões, anestesiologistas, assistentes operacionais e engenheiros biomédicos). 

Depois da formação local, as equipas foram convidadas a assistir a cirurgias em outros hospitais, contando no regresso com o acompanhamento de um médico especialista na área (proctor), que se deslocou à Madeira para apoiar as primeiras cirurgias, que decorreram em Fevereiro de 2025.

Cirurgia robótica em Portugal

Em 2024, o número de intervenções realizadas com o sistema robótico aumentou 36% na Península Ibérica, para as 34 mil cirurgias. Destas, cerca de 3 mil foram efectuadas em Portugal, num crescimento de 43% de procedimentos cirúrgicos com sistema robótico da Vinci, nos hospitais nacionais, comparativamente ao ano de 2023. Segundos números avançados pela Excelência Robótica, a empresa portuguesa responsável pela distribuição do sistema robótico Vinci, já foram formados mais de 300 cirurgiões em cirurgia assistida com este sistema em Portugal.

O sistema robótico da Vinci está presente em Portugal desde 2010. Actualmente, estão em operação mais de 16 em território nacional. No ano passado, Portugal registou um alto crescimento da cirurgia robótica, com a instalação de oito novos sistemas, o que traduz uma duplicação do número de unidades em operação, em comparação com 2023.

A distribuição destes sistemas reflecte a crescente adopção da cirurgia robótica da Vinci nos hospitais públicos portugueses, dado que 66% destes sistemas já estão instalados na rede pública de saúde, enquanto 34% operam em centros hospitalares privados. Desde que, em 2010, foi realizada a primeira instalação do sistema cirúrgico da Vinci no país, o número acumulado de intervenções já ultrapassa as 13 mil.

Em 2024, das intervenções realizadas em Portugal 45% foram em urologia, 32% em cirurgia geral, 13% em ginecologia, 8% em cirurgia torácica e 2% em otorrinolaringologia. Em comparação com o ano anterior, estas especialidades registaram um crescimento relativo no volume de procedimentos, enquanto a urologia, embora ainda predominante, tenha reduzido ligeiramente a sua percentagem (47% em 2023).

Paralelamente, começaram a ser realizados procedimentos robóticos em cirurgia pediátrica e cirurgia de transplantes, que, embora ainda representem uma proporção residual, abrem novas linhas de aplicação para esta tecnologia em contextos clínicos de alta complexidade.