Mitos e verdades da cerveja sem álcool
Muitas vezes aconselhada e consumida como uma opção mais saudável, quando comparada à cerveja clássica, a cerveja sem álcool poderá não ser adequada a toda e qualquer situação. Conheça os mitos e as verdades da cerveja sem álcool.
Como é que a cerveja sem álcool é produzida? Engorda? É adequada para mulheres grávidas e a amamentar? E para crianças? A DECO PROteste elaborou um artigo em que responde a estas e outras perguntas sobre este produto que é, muitas vezes, a opção de quem defende estilos de vida mais saudáveis.
Existem dois métodos de produção deste tipo de cerveja, que passam por remover o álcool no final da produção, ou evitar a formação de álcool durante a produção. No primeiro, a cerveja é produzida pelo método tradicional e, posteriormente, remove-se o álcool através de destilação ou filtração por membrana (osmose inversa); permitindo preservar grande parte do sabor e dos aromas originais da cerveja.
No segundo método, a intervenção ocorre já durante a fermentação, interrompendo-a precocemente ou utilizando leveduras especiais que originam muito pouco álcool. No entanto, este método pode comprometer a qualidade aromática da cerveja e deixá-la mais doce devido aos açúcares residuais não transformados pelas leveduras.
Dito isto, convém referir que muitas cervejas sem álcool à venda no mercado não estão totalmente isentas de álcool. A nível europeu não existe uma norma única que regule a cerveja, pelo que o teor máximo de álcool permitido para a designação se ‘sem álcool’ não é igual em todos os países.
Em Portugal, esta designação está prevista para o produto cujo ter alcoólico seja igual ou inferior a 0,5% vol., enquanto que a denominação ‘cerveja com baixo teor alcoólico’ é atribuída quando o teor fica entre 0,5% vol. e 1,2% vol.. Em Espanha, por exemplo, uma cerveja sem álcool pode conter até 1% de álcool. Quem procura uma cerveja isenta de álcool tem de se certificar que no rótulo se encontra a menção ‘0,0% vol.’.
Melhor para a saúde
Quando comparada com a cerveja tradicional, a cerveja sem álcool é considerada uma escolha mais saudável, tendo em conta que é o álcool o principal responsável pelos efeitos negativos associados ao consumo desta bebida. No caso dos produtos que contêm pequenas quantidades de álcool, lembrar que a Organização Mundial de Saúde afirma que não existe um nível de consumo de bebidas alcoólicas totalmente isento de riscos.
Por outro lado, lembrar que a cerveja sem álcool, tal como a tradicional, é produzida através de malte de cereais que podem conter glúten. Assim sendo, não é adequada para celíacos, que devem optar por cerveja sem glúten.
Para quem quer proteger a saúde do fígado, a melhor escolha é, realmente, a cerveja totalmente sem álcool, uma vez que os problemas hepáticos relacionados com o consumo de cerveja se devem à presença de álcool. O álcool é metabolizado principalmente pelo fígado e, se consumido em excesso ou por períodos prolongados, pode provocar graves danos, como esteatose hepática (fígado gordo), inflamações, cirrose e, nos casos mais graves, tumores hepáticos.
Quanto à glicemia, o consumo de cerveja sem álcool pode elevá-la, mas de forma moderada e geralmente limitada. Uma garrafa de 330 ml de cerveja sem álcool contém cerca de 15 gramas de hidratos de carbono, dos quais poucos são açúcares simples. Esta quantidade pode influenciar a glicemia, mas menos do que uma bebida comum com açúcares, como um sumo de fruta de 200 ml, que pode conter o dobro (25-30 gramas). Ainda assim, quem tem glicemia elevada ou diabetes deve consumir cerveja sem álcool com cautela.
A cerveja sem álcool tem um conteúdo calórico inferior ao da cerveja tradicional, porque é isenta (ou quase) de álcool, que representa uma das principais fontes de calorias na cerveja. Por exemplo, uma lata de 33 cl de cerveja sem álcool pode fornecer cerca de 70 kcal, contra cerca de 130 kcal da mesma quantidade de cerveja clássica com graduação alcoólica em torno de 4,5% e 5% vol. Em resumo, se consumida ocasionalmente e dentro de uma dieta equilibrada, a cerveja sem álcool não tem impacto significativo no peso corporal.
A cerveja sem álcool é ideal para quem quer conduzir depois de beber. Uma garrafa de 33 cl de cerveja, com teor alcoólico de 0,5% vol., contém cerca de 1,3 g de álcool, ou seja, um décimo do que se encontra numa cerveja tradicional com graduação de 5% vol. Isto significa que seria necessário beber cerca de 10 garrafas de cerveja de 33 cl para ingerir a mesma quantidade de álcool presente numa única garrafa de cerveja tradicional. O consumo de uma ou duas cervejas sem álcool não comprometem a condução nem fazem ultrapassar o limite máximo de álcool permitido pelo Código da Estrada, de 0,5 g de álcool por litro de sangue.
Restrições a ter em atenção
As mulheres grávidas podem beber cerveja sem álcool apenas se o produto indicar, claramente, no rótulo a menção ‘0,0% vol.’. Mesmo pequenas quantidades de etanol podem atravessar a placenta e chegar ao feto, que não tem capacidade para metabolizar o álcool, acabando por acumular níveis nocivos. O risco associado é o de causar malformações, atraso no crescimento, distúrbios neurológicos e comportamentais.
Também durante a amamentação, a mãe deve apenas consumir cerveja se estiver totalmente isenta de álcool. Durante a amamentação, mesmo pequenas quantidades de álcool consumidas pela mãe passam para o leite materno e podem ser ingeridas pelo bebé. Além disso, o álcool pode reduzir temporariamente a produção de leite, com o risco de limitar a alimentação da criança nas horas seguintes.
A cerveja nunca é adequada para crianças, mesmo quando se trata de produto com 0,0% de teor alcoólico. O problema prende-se com o risco associado aos hábitos que o consumo deste tipo de bebidas pode incentivar. Segundo a OMS, as bebidas sem ou com baixo teor alcoólico podem contribuir para normalizar o consumo de álcool entre os mais jovens, aumentando o risco de se desenvolverem comportamentos associados ao consumo de álcool na adolescência. Além disso, do ponto de vista nutricional, a cerveja sem álcool não traz qualquer benefício para as crianças.