Porque arde Portugal? (Parte II)
“Os milhões de hectares de território que foram abandonados pelas populações a partir da década de 1970, quando foram para as cidades, têm de ser convertidos, noutra coisa qualquer. O montado devia imigrar para Norte, que há condições ecológicas (montado é o equilíbrio extremamente delicado e muito sábio entre pastagens e áreas dispersas com alguma silvopastorícia).
O montado, particularmente o montado de sobreiro é o que mais necessitamos na região Centro, é extraordinariamente produtivo, do ponto de vista da cortiça, é extraordinariamente resistente, é a espécie que melhor resiste ao fogo, em todo o Mundo, permite uma silvopastorícia no coberto e alguma agricultura, e é riquíssimo em biodiversidade. Permite explorar o turismo de natureza. Neste momento, o turismo no País, representa quase 20% do PIB.
O turismo de natureza contribui muito mais para o país do que muita da fileira florestal. Converter todo este território em montado de sobro ou em bosque fechado autóctone é economicamente viável.
Agora, o que é preciso fazer: Fazer o cadastro da propriedade, que está para fazer há décadas e ainda não está completado. Em 2007, houve um programa provisório de criação de cadastro. Estimava-se que o cadastro custasse, nessa data, mil milhões de euros e demorasse cerca de uma década a fazer. Neste momento, estamos a perder mil milhões de euros para os cofres do Estado e ainda não fizemos o cadastro.
O cadastro é a condição fundamental para contactar os proprietários, assegurar que eles se associam e aqueles proprietários que não querem ficar mais com as suas propriedades, as vendem ou as arrendam e esses terrenos entram no mercado para serem, efectivamente, plantados, geridos, pela biodiversidade, contra os incêndios, em função de uma solução económica. Isto é possível, assim nós saibamos nos organizar.
Há uma tarefa, exigente, que está para resolver, visto, que é uma tarefa que está a montante, que é organizarmos toda a questão do cadastro, da tributação da propriedade imobiliária, a questão do associativismo e a questão, também, do financiamento das actividades de reflorestação.
Nós precisamos de mudar radicalmente a paisagem. A partir da década de 1970, o que os meios académicos, chamam de transição florestal, basicamente, abandonou-se a agricultura em boa parte do território e a pastorícia, desapareceram os rebanhos, e a natureza voltou a conquistar o seu curso e temos de ter em noção que a natureza é maravilhosa, em termos, da sua biodiversidade, da sua beleza, mas a natureza, como dizia Darwin: “é vermelho nos dentes e nas garras”, isto é, a natureza tem os seus aspectos extraordinariamente violentos, e os incêndios florestais na região ecológica do mundo em que vivemos, fazem parte dela.
E, nós, seres humanos, se quisermos diminuir os incêndios que, naturalmente, ocorrem, nós temos de reajustar a paisagem para diminuir aquelas partes do ecossistema que mais incêndios provocam, que são os matagais e restaurar as pastagens, bosques, e o sistema misto - o montado.”
Ainda destacar, o que disse, o Prof. Pedro Bingre Amaral: “Portugal não tem mais floresta que os países desenvolvidos; a floresta, ocupa, no país, 60 mil hectares de um total de 9 milhões de hectares, do território. A floresta existente no país ocuparia um quadrado com 24 km x 24 km. O IMI, pago, no país, pela propriedade rústica, não atinge os 10 milhões de euros/ano. A prevenção e combate dos incêndios florestais tem o custo de 520 milhões de euros/ano, pago pelo Estado. Este gasto com a prevenção e combate dos incêndios florestais representa o custo de 60 euros por hectare, anual.” (Sic Notícias, 14 Agosto, 18h25)
João Freitas