A barreira que provocou o caos no trânsito é da Câmara Municipal do Funchal?
Pouco depois das 7 da manhã desta segunda-feira, começaram a surgir os primeiros relatos de trânsito congestionado na zona da Cruz Vermelha. Em pouco tempo, o cenário agravou-se. A circulação na Cota 40 ficou praticamente parada, os acessos à Via Rápida saturaram-se e várias artérias do centro do Funchal entraram em colapso. Aquilo que se previa como mais uma manhã com trânsito transformou-se numa verdadeira dor de cabeça para os automobilistas.
A origem do problema foi posteriormente identificada: uma barreira metálica com sinal de trânsito proibido, colocada no acesso ao túnel da Via 25 de Abril, sem qualquer aviso, presença policial ou obra visível. De imediato, levantaram-se várias questões: quem colocou a barreira? Desde quando estava ali? E, sobretudo, pertence ou não à Câmara Municipal do Funchal?
Cerca das 10 horas, o vice-presidente da autarquia, Bruno Pereira, que tutela o pelouro do Trânsito, veio a público confirmar a existência da barreira, justificando o episódio com uma alegada “brincadeira”. Afirmou que a PSP foi chamada ao local, retirou o obstáculo e que a circulação normalizou pouco depois. A explicação foi mal recebida pelos automobilistas afectados e motivou críticas da oposição.
Miguel Silva Gouveia, ex-presidente da Câmara e actual vereador da coligação Confiança, acusou o executivo de desleixo e garantiu que a barreira é da própria autarquia. Acrescentou que, segundo testemunhos de vários condutores, o equipamento estava no local desde a noite anterior. Considera que invocar uma “brincadeira” é uma tentativa de fugir à responsabilidade, lembrando ainda que o prometido sistema de videovigilância continua por instalar, com quatro anos de atraso.
Durante a tarde, por volta das 15 horas, chegaram ao DIÁRIO imagens captadas em vários pontos do centro do Funchal, mostrando barreiras idênticas com o brasão do Município e sinalética bilingue, usadas no controlo de estacionamento durante o desfile da 7 edição dos veículos Clássicos, um evento no âmbito da Festa da Flor, o que implicou o fecho de diversas ruas. Contudo, a barreira que bloqueou o túnel parece ter escapado ao controlo. Tinha sinalética visível, mas não foi removida nem vigiada. Terá sido deixada durante a noite num ponto crítico e acabou por bloquear a circulação no arranque do dia, provocando um efeito de entupimento em cadeia em toda a cidade.
Há quem aponte que esta barreira possa ter sido usada para interromper o trânsito durante a noite, permitindo a habitual limpeza do túnel, operação que exige o corte da via. A ausência de qualquer referência à intervenção nos editais de trânsito da autarquia reforça a ideia de falha logística: uma barreira da Câmara foi deixada sem supervisão, sem informação pública e num ponto altamente sensível da malha rodoviária.
Confrontada pelo DIÁRIO, a Câmara Municipal do Funchal confirmou que a barreira em causa pertence aos seus serviços e que tinha sido usada na quinta-feira anterior para a instalação de uma lona publicitária. A autarquia afirma que a estrutura foi deixada acondicionada numa doca existente no local e que não foi recolhida a tempo devido ao envolvimento dos serviços camarários em outros eventos durante o fim-de-semana, como procissões e o “Madeira Flower Classic Parade”. A CMF alega, no entanto, que a barreira foi colocada indevidamente na via por terceiros, classificando o acto como “ilegal, irresponsável e criminoso”.
Em resumo a barreira é da Câmara Municipal do Funchal. Foi deixada no local após utilização por parte dos serviços da autarquia, não foi removida a tempo e acabou por provocar um colapso de trânsito na cidade. A responsabilidade é institucional, resultante de uma falha nos procedimentos logísticos e na fiscalização da Câmara.