Ontem, a equipa principal de futebol da Associação Desportiva de Machico assegurou a permanência no Campeonato de Portugal, ao empatar (1-1) com o Leça, naquela que foi a última jornada desta temporada.

No jogo do ‘tudo ou nada’, que teve o Estádio de Machico como palco, os jogadores da equipa orientada por Élio Martins conseguiram somar um ponto, terminando o seu desempenho nesta competição ao fim de 26 jogos com 35 pontos, na 8.ª posição, à frente da ‘Camacha’, que ontem perdeu frente ao Salgueiros (2-0), mas que com os mesmos pontos já havia garantido a manutenção na jornada anterior, terminando no 9.º lugar.

Num comentário à notícia que vincava a conquista da permanência, um leitor do DIÁRIO trouxe ao debate os valores de financiamento a estes dois clubes regionais que disputaram na época que agora terminou o Campeonato de Portugal (Série B), juntamente com o Marítimo B.

António Teixeira destacou o “grande Machico” e criticou a “arbitragem do continente”. Quanto aos dinheiros, diz-se expectante. “Agora quero ver como faz o Governo Regional, se somos iguais à ‘Camacha’, a nível de dinheiro, porque [eles] tinham quatro vezes mais [dinheiro] do que Machico. Acerca do dinheiro quero ver”.

Com as devidas correcções ortográficas, terá o leitor António Teixeira razão, quando afirma que a Associação Desportiva da Camacha recebe quatro vezes mais do que a Associação Desportiva de Machico do erário público pela sua participação no Campeonato de Portugal? É isso que vamos procurar confirmar.

A competição em muitas modalidades desportivas não se limita ao palco de jogo. É assim, também, no futebol, com os adeptos a terem um papel relevante na salutar disputa entre os diferentes clubes.

Na Madeira, essa circunstância eleva-se a outro patamar quando em causa estão equipas séniores de âmbito mais local, como a Associação Desportiva de Machico ou a Associação Desportiva da Camacha, sobretudo quando têm projecção nacional.

No caso da ‘Camacha’, é no futebol sénior que a colectividade tem maior peso. Há vários anos que a equipa sénior disputa o Campeonato de Portugal, do 4.º escalão do futebol português.

Na época 2024/2025 que terminou no passado domingo, a Madeira estava igualmente representada pelo Marítimo B e pela Associação Desportiva de Machico. Esta última num regresso depois de ter descido na época anterior.  A equipa satélite dos verde-rubros desce, agora, aos regionais ao fim de 26 anos.

No final desta época, 'Machico' conseguiu a melhor classificação. Com 35 pontos, ficou em 8.º lugar. Na 9.ª posição, também com 35 pontos, ficou o ‘Camacha’; o Marítimo B, não foi além de 17 pontos, fruto de quatro vitórias e cinco empates.

A participação destes clubes em competições de âmbito nacional representa, naturalmente, custos bastante elevados. Além do investimento em recursos humanos – com melhor plantel e melhor equipa técnica, com vista aos melhores resultados – há outros custos que não podem ser esquecidos. Viagem e alojamento nas deslocações fora são sempre a somar.

É aqui que entram os apoios ao desporto, suportados por regulamentação vária sobre a matéria. É o caso do Plano Regional de Apoio ao Desporto (PRAD), adaptado a cada época desportiva, do qual constam os valores a atribuir a cada um dos capítulos de apoio ao desporto, sempre em co-relação com as verbas inscritas no Orçamento da Região para esse fim, e seguindo os critérios definidos no Regulamento de Apoio ao Desporto (RAD).

Na atribuição dos apoios governamentais, são tidos em conta vários critérios, que determinam o montante final auferido. Entram nesta equação, entre outros factores, a representatividade da modalidade (coeficiente desportivo nacional) e o mérito desportivo (classificação) na época transacta. Portanto, uma equipa que suba para um escalão superior, fica no final da tabela que passa a integrar. Foi o que aconteceu, na época que agora termina, com 'Machico' e é o que vai acontecer com o ‘Ribeira Brava’, que está classificado para passar do regional ao nacional, desde que cumpra com os requisitos ditados.

No caso do futebol, enquanto modalidade colectiva com representação nacional os apoios dividem-se em apoios à actividade e apoio às deslocações para a competição nacional.

De acordo com o PRAD 2024/2025, definido pela Portaria n.º 547/2024, de 16 de Outubro, alterado pela Portaria n.º 696/2024, de 25 de Novembro de 2024, o Governo Regional, através da Direcção Regional do Desporto atribuiu à Associação Desportiva da Camacha, no que toca ao apoio à actividade, 236.767,11 euros. À Associação Desportiva de Machico, nessa mesma rubrica, coube 84.506,90 euros. Na prática, estamos a falar numa diferença de 152.261 euros a favor da ‘Camacha’.

A estes montantes junta-se o apoio à deslocação. Para Machico foram 58.006 euros, enquanto para a ‘Camacha’ foram reservados 54.648 euros. Aqui foi a colectividade da zona Leste que ficou a ganhar cerca de quatro mil euros.

No total, foram reservados 291.415,11 euros para a ‘Camacha’ e outros 142.512,90 euros para 'Machico'. Contas feitas, embora o primeiro tenha ficado com uma fatia maior, está de representar quatro vezes mais do que a verba atribuída a este último.

Ao Marítimo B, que integrava a mesma competição, não foi atribuído apoio à actividade por se tratar de uma equipa secundária na SAD maritimista (equipa satélite), ainda assim, foi contemplada com o apoio à deslocação, forma que o Governo Regional encontrou para assegurar a continuidade territorial. Na época que agora termina esse apoio aos verde-rubros foi de 31.188 euros.

Na próxima época, com a entrada de uma outra equipa principal madeirense no Campeonato de Portugal, o ‘Ribeira Brava’, por 'troca' com o Marítimo B, que, como já aqui foi referido, desce de divisão e não entrava nas verbas de apoio à actividade, os montantes a atribuir a cada colectividade serão ajustados em função da divisão pelos três clubes (e em função do número de clubes que irão integrar o Capítulo III – Modalidades colectivas com representatividade nacional no PRAD).

Além disso, 'Machico' ficou acima da ‘Camacha’ na tabela classificativa. É expectável que o montante a financiar pelo Governo Regional aos dois clubes, na próxima época, tenda a aproximar-se, pese embora ainda não serem conhecidos valores orçamentados.

Perante o exposto podemos concluir que a afirmação do leitor António Teixeira não é verdadeira.