Aumento do fosso salarial apontado como um dos principais retrocessos da última década
O Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues, e a deputada Mónica Freitas, do PAN, apontaram a diferença salarial entre homens e mulheres como um dos principais retrocessos sociais dos últimos anos.
As declarações foram registadas na conferência 'Ser mulher: passado, presente e futuro', promovida pela parlamentar do PAN e que contou com as participações de Catarina Matos, Presidente da Associação Womaniza-te, de Joana Martins, coordenadora da UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta, da psiquiatra Frederica Passos e de Mariana Luís, do projecto 'Entrelinhasdador'.
O Presidente do Parlamento madeirense manifestou, de forma veemente, o "profundo repúdio e protesto por termos retrocedido e matéria de disparidade salarial entre homens e mulheres", quando, no entender de José Manuel Rodrigues "devíamos estar a caminhar para uma convergência e igualdade salarial, a verdade é que a divergir. Essa é uma das grandes lutas sociais que temos o dever de travar", frisou.
É fundamental que nós, enquanto sociedade, continuemos a defender, sem reservas, um pensamento assente numa cultura de respeito, afecto e tolerância, apostando em acções de sensibilização dirigidas, que incidam sobre questões relacionadas com a igualdade de género, e repudiando toda e qualquer forma de preconceito e discriminação. A luta por direitos iguais não se extingue na legislação nem nas políticas. Mais do que reformas, é necessária uma batalha pela educação e pela transformação de mentalidades e das culturas José Manuel Rodrigues, presidente da Assembleia Legislativa da Madeira
Na sessão de abertura da conferência recordou, ainda, dois antigos deputados da Assembleia Legislativa da Madeira, Guida Vieira e Paulo Martins, "como dois grandes defensores dos direitos das mulheres", no Parlamento madeirense, dando como exemplo a antecipação da idade da reforma das bordadeiras de casa, que ainda hoje está em vigor.
A conferência está inserida nas comemorações do Dia Internacional da Mulher, que se assinala amanhã, e nela a deputada Mónica Freitas, do PAN, fez chegar a mensagem de que "igualdade plena", entre homens e mulheres, "ainda não foi atingida". Por motivos pessoais a organizadora do evento não pôde estar presente, mas o porta-voz, Válter Ramos, destacou que a conferência tem como propósito "reflectir sobre o passado e valorizar o presente e construir um futuro verdadeiramente igualitário".
"É importante lutar para que a igualdade aconteça", referiu o dirigente do PAN em nome de Mónica Freitas, destacando que, "apesar dos avanços, persistem desigualdades profundas. As mulheres continuam a enfrentar discriminação no mercado de trabalho, tendo até aumentado o fosso salarial entre homens e mulheres nos últimos 10 anos".
"As mulheres continuam a ser as principais da violência doméstica e, ainda muitas vezes sozinhas, têm o peso de conciliar a vida profissional e a vida de casa. Tudo isto são desafios que exigem de todos nós enquanto, cidadãos e cidadãs e enquanto sociedade ações determinadas. A luta pelos direitos das mulheres não é uma luta exclusivamente de mulheres, mas um compromisso coletivo de todos aqueles que acreditam na justiça e na dignidade humana", concluiu o porta-voz do PAN.
Frederica Passos, médica psiquiátrica, afirmou que "ser mulher é uma experiência complexa e multifacetada, que envolve aspectos biológicos, culturais, sociais e individuais", vincando que o rácio da desigualdade entre homens e mulheres "é muito preocupante", e por isso desafiou os homens a lutarem ao lado das mulheres na construção de "um futuro mais próspero e mais igual." A psiquiatra falou da sua experiência profissional e da realidade de muitas mulheres que procuram as consultas para desabafar. Destacou a "economia do cuidado" e a necessidade de valorizar este trabalho não remunerado, essencialmente realizado pelas mulheres, em benefício da família.
Já Catarina Matos, presidente da Associação Womaniza-te, explicou que, culturalmente, ser mulher está frequentemente associado "a papéis e expectativas sociais que podem variar entre diferentes culturas. Isso inclui a forma como as mulheres são vistas, tratadas e os desafios que enfrentam devido a questões como igualdade de género, representatividade e direitos".
Joana Martins, coordenadora da UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta, recordou Carolina Beatriz Ângelo, uma médica e activista portuguesa, reconhecida por ser a primeira mulher a votar em Portugal, que teve um papel importante na história do movimento feminino em Portugal.
Joana Martins defendeu a sororidade, o conceito que se refere à solidariedade e apoio mútuo entre mulheres, muitas vezes "visto como egoísmo", para dizer que é preciso "trabalhar com as mulheres sobre a questão de competição entre mulheres. Temos que ultrapassar essa mentalidade, ficar feliz com o sucesso da mulher e não alimentar a inveja", desafiou.
Mariana Luís, representante do projecto 'Entrelinhasdador', deu a conhecer o seu testemunho pessoal de mulher que sofre com endometriose e alertou que a doença pode ser debilitante, e afetar a vida quotidiana de qualquer mulher". Por isso apelou à resiliência "em nome da saúde mental e o bem-estar geral das mulheres que enfrentam este problema de saúde".