O futuro político de Machico em jogo
Analisando os resultados eleitorais regionais de 23 de março como se fossem para as autárquicas de setembro/outubro, encontramos um cenário político bastante interessante em Machico. O PPD/PSD liderou com 40,12% (4.442 votos), seguido pelo PS com 26,99% (2.888 votos) e o JPP com 19% (2.103 votos). Os partidos menores obtiveram resultados mais modestos: CH com 4,31%, CDS-PP com 1,66%, PCP-PEV com 1,32%, IL com 1,30%, PAN com 0,89% e BE com 0,81%.
Na distribuição de mandatos sem coligações, o PPD/PSD conquistaria 4 mandatos, o PS 2 mandatos e o JPP 1 mandato. Contudo, se considerarmos possíveis coligações, o panorama muda significativamente. Um bloco de direita (PSD/CDS) somaria 41,78% (4.626 votos), enquanto um bloco PS/JPP alcançaria 45,99% (4.991 votos), uma diferença de 365 votos a favor da coligação de esquerda.
Importa salientar que estamos perante eleições completamente diferentes. A experiência histórica demonstra que o PSD frequentemente ganhava as eleições regionais por largas maiorias e, logo a seguir, perdia nas autárquicas. Esta disparidade entre os resultados regionais e autárquicos evidencia que o comportamento do eleitorado varia significativamente consoante o tipo de escrutínio.
Esta análise é particularmente importante para o PS, que corre sério risco de perder representatividade na Câmara de Machico, o mesmo poderá acontecer noutras câmaras da região. Sem uma coligação estratégica, principalmente com o JPP, o PS poderá ver a sua influência drasticamente reduzida na região. O método de Hondt favoreceria ligeiramente o bloco PS/JPP, podendo resultar numa distribuição de 4 mandatos para PS/JPP contra 3 mandatos para PSD/CDS.
Por outro lado, esta situação representa uma oportunidade para o PSD conquistar a Câmara Municipal, caso consiga alargar a sua base eleitoral à direita e consolidar-se como opção única neste espectro político. Se o PS e o JPP dividirem os seus eleitorados em vez de se coligarem, o PSD poderá emergir como força dominante em Machico.
O resultado final das autárquicas dependerá fortemente das dinâmicas eleitorais locais e da capacidade dos partidos em captar apoios sem fragmentar excessivamente o eleitorado. Os partidos menores também poderão desempenhar um papel relevante na distribuição final dos mandatos, tornando estas eleições um cenário altamente disputado e estratégico para todos os intervenientes.
António Nóbrega