Machico: Depressão de Inverno a Chegar ao Fim

O inverno está a terminar, e com ele deveria desaparecer a já conhecida “depressão de inverno” que, ano após ano, se abate sobre Machico. A chegada da primavera e do verão traz consigo uma breve ilusão de dinamismo, mas a verdade é que nada mudou. Tal como nos anos anteriores, os mesmos problemas persistem, as mesmas promessas são recicladas, e a inércia continua a marcar o ritmo do concelho.

Nas últimas semanas, assistimos a anúncios pomposos e declarações de intenções que, na prática, pouco ou nada significam. A primeira grande promessa veio com a habitação. Fala-se agora da construção de edifícios com nove ou até dez pisos em Machico, como solução para o problema habitacional da Madeira. No entanto, há um detalhe que parece ter escapado a quem fez este anúncio: o Plano Diretor Municipal (PDM) continua por aprovar, depois de mais de uma década de adiamentos. Se em 12 anos não houve capacidade para aprovar um documento essencial para o ordenamento do território, será que de repente vão conseguir fazê-lo antes do fim do mandato? A experiência diz-nos que não. Mais um anúncio que servirá apenas para preencher discursos de campanha e criar falsas expetativas.

Mas não ficamos por aqui. Surge agora a proposta de um Geoparque em Machico. O conceito até poderia ser interessante se não tivéssemos um exemplo bem próximo do que acontece quando a “gestão territorial” não passa de uma ideia mal executada. Basta olhar para as serras do Concelho, nomeadamente para a zona das feiteiras, Caniçal. O estado do território nessa área fala por si: desordenamento, degradação e uma ausência gritante de planeamento sustentável. Se este Geoparque for para seguir o mesmo modelo, então será apenas mais um nome bonito para uma iniciativa vazia de resultados concretos.

O ciclo repete-se. Durante o inverno, Machico mergulha na apatia, apenas para ser temporariamente despertado pela chegada dos eventos de verão. O MIUT, o Mercado Quinhentista, a praia de areia amarela e a Semana Gastronómica voltam a encher as ruas, garantindo a habitual animação sazonal. Este ano, com eleições autárquicas à porta, ouviremos certamente que serão “as melhores edições de sempre”. No entanto, quando o calor der lugar ao outono e os votos forem contados, Machico voltará a cair na depressão de inverno, porque nada de estrutural foi feito para mudar esta realidade.

A questão que se impõe é simples: até quando? Até quando se vão repetir promessas sem execução? Até quando Machico continuará refém de uma gestão que apenas se preocupa em anunciar e não em concretizar? A primavera pode estar a chegar, mas sem mudanças reais, Machico continuará preso no inverno da estagnação.

António Nóbrega