Será o excesso de velocidade uma das principais causas dos capotamentos?
Em cerca de 24 horas, os madeirenses ficaram a saber da existência de três capotamentos automóveis, mas estradas da Madeira. O primeiro foi ao princípio da noite de terça-feira e os outros dois já nesta quarta-feira. Todos foram objecto de notícias nos órgãos de comunicação social regionais, incluindo no DIÁRIO.
Capotamento na Via Rápida deixa um jovem ferido
Ao início desta noite, pelas 20 horas, uma viatura ligeira despistou-se e capotou na Via Rápida, na zona da Cancela, deixando um jovem ferido.
Como habitualmente acontece, muitos foram os leitores que quiseram dar a sua opinião sobre as razões que levam àquele tipo de acidente. O excesso de velocidade foi, de longe, a causa mais apontada pelos leitores. Um excesso que atribuem à imprudência, por parte dos condutores, em especial quando, como nestes dois dias, o piso se apresenta molhado e o vento sopra forte.
Capotamento na Via Rápida
Ocorreu há alguns minutos um capotamento na via rápida, no sentido Caniço - Santa Cruz, na zona antes da saída para Gaula.
Mais um capotamento na Via Rápida deixa um jovem ferido
Mais um capotamento ocorreu, a meio desta manhã, na Via Rápida, envolvendo duas viaturas, no nó da Ponte dos Frades, no sentido Câmara de Lobos-Funchal.
Outros falam na falta de respeito de alguns condutores pelas faixas de circulação ou até na inadequada manutenção dos automóveis. Mas, o excesso de velocidade é claramente a causa mais referida. Fará sentido ser tão peremptório?
Antes de verificarmos o factor velocidade no capotamento de automóveis, vejamos qual foi a realidade regional, durante o ano de 2024, no que respeita a capotamentos.
O levantamento, que efectuámos a notícias publicadas nas edições em papel do DIÁRIO e do JM, permitiu identificar 26 ocorrências dessas.
O mês de Dezembro destacou-se com cinco capotamentos. É um mês de chuvas, mas também de festas e de consumo de álcool. Talvez por isso, Agosto tenha sido o terceiro mês com maior número de casos, três, a par com Março. O segundo mais significativo, com quatro capotamentos, foi Junho (dois no mesmo dia).
É sabido, documentado e estudado, que o consumo de bebidas alcoólicas pode induzir a estados de euforia, que potenciam a adopção de condução com velocidade excessiva. E velocidade excessiva é aqui entendida no sentido de superior às adequadas às condições da via, do tempo e do próprio automóvel e não exclusivamente ao limite legal.
Um manual do ensino da condução de automóveis, da autoria do IMT – Instituto da Mobilidade e dos Transportes – refere especificamente uma situação potenciadora de capotamento, cuja lógica pode ser aplicada também na Madeira.
“Velocidade excessiva ou mesmo o desrespeito pelos limites impostos por sinalização, nas saídas de autoestrada podem resultar em despiste e/ou em capotamento. Em especial os veículos pesados, furgões com caixa alta, autocaravanas, veículos com reboque e cisternas estão sujeitos a este tipo de sinistro, mas também os restantes ligeiros. Deve reduzir-se a velocidade de forma antecipada e progressiva antes da saída, respeitando a sinalização.”
O “especialmente”, referido pelo IMT, está relacionado com a questão do centro de gravidade.
Um estudo brasileiro sobre ‘acidentes de capotagem de SUV’ - Sport Utility Vehicle (Veículo Utilitário Desportivo), que são veículos com maior altura relativamente ao solo, explica o que está em causa. Neste aspecto, o do centro de gravidade, o princípio aplica-se a qualquer automóvel.
O estudo explica que os acidentes com capotamento devem de ser divididos em dois tipos: de veículo único e envolvendo mais do que um veículo. “A ciência (…) mostra basicamente que quanto maior o centro de gravidade do veículo, maior é a probabilidade de capotamento. Factores adicionais que podem contribuir para a probabilidade de um acidente de capotamento são a velocidade e as curvas bruscas, que criam uma força de rotação lateral. Além disso, a aderência excessiva do pneu pode contribuir para esta força lateral e fazer de um acidente de capotamento uma possibilidade maior.”
“Ao contrário da crença popular, os acidentes com capotagem de um veículo não são causados singularmente por uma manobra de direcção do motorista, mas sim, pela maioria das vezes, causado pelo que é chamado de "viagem". Isto ocorre quando um veículo gira e atinge um buraco, uma curva ou a borda de metal do pneu. Algumas estimativas colocam "tropeçar" como responsável por 95% de acidentes com capotagem de um veículo. Acidentes com capotamento de veículos múltiplos podem ser causados por qualquer número de factores, já que forças adicionais em várias direcções são aplicadas pelos veículos que colidem. Como tal, a causa de um acidente de capotamento com vários veículos é mais difícil de ser identificada, mas um centro de gravidade mais alto ainda pode aumentar a probabilidade de ocorrência de um.”
Quanto ao conceito de centro de gravidade, o estudo tenta explicar de forma simples o que está em causa: “Em um carro, o peso dos passageiros é distribuído no eixo dos pneus ou ligeiramente acima dele. Em um SUV, os eixos são mais altos do solo do que um carro para uma distância do terreno acidentada e os passageiros se sentam mais altos do que os eixos. Com mais peso em uma elevação mais alta acima do solo, é necessária menos força para inclinar qualquer objeto. Um centro de gravidade em um SUV é muito mais alto do que em um carro.”
O que aqui é dito para os SUV aplica-se a qualquer outro veículo, em especial, o referido pelo IMT, no também citado Manual de Condução: veículos pesados, furgões com caixa alta, autocaravanas, veículos com reboque e cisternas.
Como se constata, os capotamentos dos veículos automóveis podem dever-se a um conjunto alargado de razões, tendo mesmo os especialistas, em muitos casos, dificuldade em determinar com rigor a causa imediata do acidente. Mas é certo que a velocidade em excesso é uma das principais causas dos capotamentos. Em tese e em absurdo, se os veículos estiverem parados, por regra não capotam, excepto veículos elevados que sejam sujeitos à aplicação de poderosas forças laterais (ventos ou outras).
Assim, avaliámos como verdadeiros os comentários dos leitores que apontam à velocidade em excesso como principal causa ou a mais provável dos capotamentos.