DNOTICIAS.PT
Regionais 2025 Madeira

Desbloquear o marasmo em que a Região se encontra

Politólogo Luís Nascimento mede a temperatura política ao oitavo dia de campanha

None

Nestas eleições está em causa a capacidade de o voto popular desbloquear o marasmo em que a Região se encontra desde o início do ano passado. Não é tácito que isso aconteça; contudo, mediante as posições progressivamente inamovíveis dos intervenientes políticos regionais atuais, devolver a palavra aos eleitores é, curiosamente, o caminho da menor resistência. 

Após investigações judiciais, a demissão do Presidente do Governo Regional, congressos partidários extraordinários,  um sufrágio, acordos de incidência parlamentar, negociações para a aprovação do Programa de Governo e para o Orçamento Regional e, finalmente, uma moção de censura, encontramo-nos precisamente perante o mesmo predicamento com que nos deparámos a 20 de maio de 2024: a possibilidade de Miguel Albuquerque, caso vença as eleições que se realizam no próximo domingo, não conseguir congregar uma maioria estável de 24 assentos na Assembleia Legislativa e ser necessário admitir outras arquiteturas de governação.

A falta de novidade nas propostas políticas – graças ao curtíssimo ciclo político que a moção de censura encerrou, impossibilitando a renovação da maioria das lideranças partidárias e dos projetos que estas preconizam – e o desfasamento destas em relação à dimensão dos problemas que assolam a Região (como a Habitação, a Saúde e o aumento do custo de vida) recentram o élan da campanha na discussão e teorização sobre os potenciais acordos, coligações e entendimentos que garantam governabilidade à Madeira.

Igualmente interessante é acompanhar a procissão de alegadas incompatibilidades, desalinhamentos ideológicos e linhas vermelhas que, segundo os partidos, obstaculizam a formação de uma futura maioria estável.

Podemos observar, em tempo real, a transição na forma como se fazem campanhas eleitorais na Região. Embora ainda distante do modelo de campanhas hipermodernas – em que a comunicação é descentralizada e a mensagem política é segmentada e ampliada através de algoritmos, de forma a espelhar o eleitor e incentivá-lo a ser um vetor de disseminação viral de informação política nem sempre verdadeira –, nota-se o abandono das iniciativas tradicionais que privilegiavam o contacto pessoal com os eleitores e militantes.

Os grandes partidos preferem, antes, apostar na mensagem política agregada num formato palatável aos meios de comunicação social e no contacto informal e direto, porém largamente unidirecional, que as redes sociais permitem.

A perspetiva de uma disputa eleitoral mais renhida, ou com uma distribuição menos concentrada, permite eixos de interpretação alternativos. À semelhança de Maio passado, o Representante da República poderá decidir quem forma Governo, em função do candidato que garanta a governação menos minoritária. Isto é, a análise passará não só por identificar qual o partido que recolhe mais votos, mas também por determinar qual o bloco de dois partidos que garante mais assentos parlamentares – PSD/CDS ou PS/JPP.

Infelizmente, esta expansão das possibilidades governativas tem como preço a diminuição do confronto saudável entre os eventuais aliados – uma tendência que empobrece o debate de propostas alternativas e dificulta o esclarecimento dos eleitores.

As propostas eleitorais dos partidos podem ser divididas em duas categorias: o que já foi proposto e o que não pode ser proposto.

No rol das medidas recicladas, encontramos áreas abrangentes de convergência que, ainda assim, não inspiram os partidos a considerar pactos de regime setoriais que facilitassem a governação. A mais evidente é a fiscalidade, onde o espesso véu de consenso em torno da redução de impostos só é perfurado pela ocasional advertência da CDU e da Força Madeira sobre a necessidade de receita fiscal.

No campo das propostas inócuas, surgem as mais variadas e arrojadas medidas que, invariavelmente, extravasam as competências dos órgãos de Governo Próprio regionais e dependem de adjudicação por parte da República.