Partido assume luta contra a corrupção como uma das principais bandeiras. Miguel Castro mostra-se vigilante a todo o sistema político vigente.
Basílio Miguel Câmara Castro volta a encabeçar a lista do Chega-Madeira às ‘Regionais’ antecipadas de 23 de Março. Chama a si a responsabilidade de voltar a representar o partido cuja moção de censura, apresentada em Novembro do ano passado e votada em Dezembro na Assembleia Legislativa da Madeira, fez cair, pela primeira vez, um Governo Regional da Madeira, desta feita liderado pelo social-democrata Miguel Albuquerque. Espera, sem medo, o veredicto do eleitorado.
A apresentação da moção esteve envolta em polémica, como demos nestas páginas (edições digital e impressa) por a decisão ter partido de Lisboa, mesmo depois de inicialmente recusada pela direcção regional. No entanto, depois de conhecida a notícia, feita com base na acta da reunião da direcção regional, Castro descartou tal exigência.
“Nós manifestamos aquilo que era o sentido e o sentimento de luta e de combate à falta de transparência e à corrupção que existia no sistema político e no governo. Foi a manifestação de quatro deputados do Chega, mas é preciso referir que toda a oposição votou a favor desta censura ao Governo. Quer dizer que os representantes da grande maioria dos eleitores da Madeira se reviram. (…) Nós arriscamos. Não tivemos medo. Podíamos ter ficado confortáveis nas nossas cadeiras na Assembleia, mas aí teríamos sido coniventes com a falta de transparência”. Miguel Castro, líder do Chega na Madeira
Nascido a 2 de Janeiro de 1973, Castro, que exercia funções de Vigilante da Natureza, no Instituto de Florestas e Conservação da Natureza, é também empresário, ligado ao sector da restauração e das actividades turísticas, desempenhando, ao momento, as funções de Presidente da Secção Regional do Chega-Madeira, presidente do grupo parlamentar do Chega-Madeira e deputado à Assembleia Legislativa Regional da Madeira.
Foi em Março de 2022 que oficializou a sua candidatura à presidência da Secção Regional do Partido e lançou-se assim de forma mais visível para a ribalta da política madeirense. Venceu com a lista A, com 45 dos 107 votos. João Sousa e Martinho Gouveia foram os seus adversários.
O porto-santense, que largas vezes denuncia situações naquela ilha, sucedeu a Fernando Gonçalves na liderança da estrutura regional do Chega, que anunciou a demissão do cargo em 30 de Setembro de 2021, considerando que o partido falhou os objectivos a que se propôs nas eleições autárquicas realizadas quatro dias antes.
“Assumo uma missão, no fundo, de fazer aquilo que fiz pela conservação da natureza. Tentar, de alguma forma, salvaguardar os mais vulneráveis da sociedade. Temos de ter a capacidade de luta para dar oportunidade a todos. A pessoas que não conseguem porque são injustiçados pelo sistema instalado, não só na Madeira, mas no país inteiro”. Líder da secção regional
Naquelas eleições autárquicas o militante do Chega foi apresentado como candidato à autarquia do Funchal. Foi a primeira incursão na política autárquica. Antes ainda tinha sido militante do PSD/Madeira.
“Foram os primeiros passos. Nem o partido tinha muita expressão, nem o candidato. É normal. (…) Não pensava exactamente na política, mas sempre tive um grande sentido de servir a comunidade, de lutar pelo combate às injustiças que se continuam a existir. Quem vai para a política como boas intenções e com sentido de missão, independente do partido que represente, quer é fazer alguma coisa para melhorar a vida dos cidadãos, da comunidade que está à sua volta”. Candidatura à CMF marcou estreia de Castro
Logo após o acto eleitoral que o elegeu presidente Chega-Madeira, Miguel Castro assumiu ser sua intenção “estruturar o partido cá na Madeira, arrumar a casa”, acrescentando também ter como objetivo “aproximar o partido dos militantes e dos simpatizantes”. O novo líder defendia a criação de organizações internas de juventude e de mulheres, a implantação de comissões políticas concelhias nos 11 municípios da região autónoma, a realização periódica de convenções regionais e de convívios com os militantes, a promoção de acções de formação em política e o reforço da actividade do partido ‘on-line’.
Três anos volvidos da sua primeira eleição [a assinalar em Março de 2025], muita tinta já correu.
A estreia no Parlamento da Madeira
Em Setembro de 2023, o partido de André Ventura protagoniza uma grande estreia na Assembleia Legislativa da Madeira, elegendo logo quatro deputados. O Chega concorreu pela primeira vez às regionais da Madeira em 2019, conseguindo 619 votos (0,44%), sem mandatos. Por isso, esta vitória foi vista como um sinal de mudança para militantes e simpatizantes.
André Ventura afirmou naquela altura que o Chega conseguiu um “resultado histórico”, com a eleição de “um grupo de quatro deputados e uma percentagem superior à que o Chega teve a nível nacional nas eleições legislativas do ano passado”. O Chega conseguiu entrar no parlamento regional da Madeira, com a eleição de quatro deputados e 8,88% dos votos.
Depois, deu-se a operação judicial. O Chega-Madeira que continuava a chamar a si a luta contra a corrupção. Mas foi o PAN que, ao retirar a confiança política ao líder do Governo Regional, catapultou a Madeira para novas eleições regionais antecipadas, que tiveram lugar em Maio de 2024.
As eleições antecipadas ocorreram oito meses após as mais recentes legislativas regionais, na sequência da crise política desencadeada em Janeiro, quando o líder do Governo Regional (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, foi constituído arguido num processo em que são investigadas suspeitas de corrupção. 14 candidaturas apresentaram-se para disputar os 47 lugares no parlamento regional, num círculo eleitoral único: ADN, BE, PS, Livre, IL, RIR, CDU (PCP/PEV), Chega, CDS-PP, MPT, PSD, PAN, PTP e JPP.
Era esperado que o partido de Miguel Castro subisse na votação, pelo menos era esta a intenção, mas tal não veio a acontecer. Ficaram com quatro deputados, tendo obtido 9,23 % com 12.541 votos.
Novas ‘internas’, nova vitória
Em 22 de Setembro de 2024, volta a vencer as eleições internas, desta vez contra José Fernandes, deputado na Assembleia Municipal de Câmara de Lobos, e Magna Costa, deputada do Grupo Parlamentar do Chega no Parlamento Regional. Esta última já em clara ‘rota de colisão’ com a sua liderança, e deputada que, como já afirmou Miguel Castro, não volta a integrar a lista do partido às ‘Regionais’ deste ano.
À parte do protagonismo político, Miguel Castro, pelo que se pode verificar nas suas redes sociais, é um aficionado do motociclismo, aproveitando o seu tempo livre para uns passeios de moto pela ilha, momentos que considera ser de “relaxamento” e é também um adepto ferrenho do Benfica, tendo por hábito assistir a alguns jogos do clube lisboeta.
“Também gosto muito de ler. Obviamente que hoje em dia vou selecionando mais a leitura, mas é algo que me dá muito gosto”. Miguel Castro