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Destino: Havaí

Quem diria que as cordas da braguinha tocada por João Fernandes ao chegar ao Havaí, após quatro meses de viagem a bordo do navio SS Ravenscrag, dariam origem ao ukulele, que se transformou no instrumento nacional havaiano?

Atualmente, ninguém é indiferente ao fato de que a origem do ukulele é madeirense. Mas o que sabemos realmente sobre a emigração madeirense para o Havaí? O que conhecemos sobre os nossos antepassados que se aventuraram nessa travessia marítima, que durava entre 70 e 140 dias?

Nas ilhas que outrora foram conhecidas como Ilhas Sandwich, o médico John Elliot de Castro, recomendou a vinda de madeirenses para trabalhar nos campos de cana-de-açúcar. A emigração da Madeira para o Havaí teve como base uma convenção assinada entre o Reino de Portugal e o Reino do Havaí, representados pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, António de Serpa Pimentel, e pelo ministro Henrique A. P. Carter, representante do rei havaiano Kalākaua.

Em 1878, ano que marcou o início da emigração madeirense para o Havaí, a embarcação Priscilla chegou a Honolulu, no dia 30 de setembro, transportando 180 pessoas, entre elas 60 crianças. Anos depois, esse feito foi assinalado no “Hawaiian Almanac and Annual for 1887 – A Handbook for Information”, que elogiava os emigrantes madeirenses como os mais tranquilos e organizados do arquipélago, deixando entrever o desejo dos madeirenses de permanecer no Havaí.

Para reconstruir a narrativa da emigração para o Havaí, é essencial recorrer às memórias dos descendentes, pois estamos a falar de um fluxo migratório iniciado há mais de 150 anos. Foi assim que, há alguns anos, encontramos a Audrey Rocha, neta de madeirenses, que tem sido uma grande defensora da preservação da herança madeirense, através do seu dinamismo associativo. Foi esse dinamismo que a levou a criar um programa de rádio em português em Maui, a tornar-se uma das fundadoras da Associação Portuguesa de Maui e a ajudar a criar a organização Maui Heritage Hall.

Uma das referências incontornáveis sobre esta história é o livro ”Portuguese-Hawaiian Memories”, publicado em 1930, que reúne mais de 300 histórias de vida de emigrantes portugueses, na sua maioria oriundos da Madeira e dos Açores. Para dar vida a essa obra, o emigrante Joaquim Francisco de Freitas dedicou dois anos a percorrer as ilhas do Havaí, recolhendo histórias e fotografias das famílias, segundo relata Audrey.

Além disso, Audrey Rocha é uma referência para todos os que desejam conhecer a história da presença madeirense no arquipélago. Incansável na preservação do legado familiar, mantém viva a história da sua comunidade num território onde, atualmente, cerca de 10% da população é lusodescendente.