O filme “Nuremberga”, ver para não esquecer

Estreou recentemente no cinema Forum Madeira, Nuremberga, um filme que não se limita a revisitar o passado. Pelo contrário, obriga-nos a confrontar um presente inquietante. A obra é notável na forma como expõe os mecanismos que permitiram a ascensão do nazismo, o poder corrosivo da mentira, a fabricação deliberada do ódio, a transformação do outro em inimigo. Mais do que cinema histórico, é uma advertência urgente.

As novas gerações, muitas vezes formadas politicamente através dos “esgotos” das redes sociais, vivem mergulhadas numa torrente de desinformação onde factos e ficções se confundem. Opiniões moldam-se por teorias da conspiração, por notícias falsas e por discursos extremistas que circulam livremente, sem confronto com a realidade. Aquilo que há relativamente pouco tempo seria considerado impensável — insultos racistas, xenofobia, demonização de comunidades inteiras — tornou-se normal, aceite, até defendido com orgulho.

É este o perigo que Nuremberga nos obriga a encarar, pois antes dos campos de extermínio houve palavras. Antes do genocídio industrializado de seis milhões de seres humanos, houve discursos que legitimaram o ódio, tal como hoje ouvimos líderes políticos a apontar o dedo a minorias, sejam refugiados afegãos e somalis nos Estados Unidos de Trump, sejam imigrantes do Bangladesh no discurso populista em Portugal. Nada começa com câmaras de gás, começa com frases que podem parecer inofensivas, mas que acabam por desumanizar.

Os julgamentos de Nuremberga tiveram o propósito de mostrar ao mundo como o horror foi planeado, executado e justificado. Acreditava-se que, uma vez reveladas as atrocidades, a humanidade seria incapaz de repeti-las. A ingenuidade dessa esperança ecoa agora, numa era em que a intolerância cresce e o extremismo, de direita ou de esquerda, já não se esconde nas sombras.

Ver Nuremberga hoje é um acto de responsabilidade. Não como lição distante, mas como espelho. Porque o futuro depende da nossa memória e da coragem de não repetir o que juramos nunca mais permitir.

Pedro Teixeira