Passageiros desesperam para sair da Venezuela por falta de voos
Pessoas que querem viajar da Venezuela desesperam face ao recente bloqueio autoimposto pelo regime, que retirou as licenças de operações de várias companhias aéreas europeias e por Washington, que mandou encerrar o espaço aéreo venezuelano.
Com a proximidade do Natal, muitos portugueses, tal como venezuelanos, vivem entre a esperança da liberdade com descontentamento e muita raiva, que por vezes se sobrepõe ao clima de medo local, que não reprime toda a censura ao regime e aos EUA, os responsáveis pelos constrangimentos.
Perante esta nova realidade e com as tensões a aumentar, muitos clientes pressionam as agências de viagens para conseguir alternativas e soluções personalizadas, sendo frequente as respostas de que nada está garantido, nem há previsão sobre quando a situação poderá mudar.
Vários portugueses relataram à agência Lusa que, com a esperança de poder voar para Portugal, têm tentado com pouco sucesso conseguir voos para Bogotá, na Colômbia, Willemstad no Curaçau, Cancun no México, Miami, nos EUA e Manaus, no Brasil.
Mas as ofertas são cada vez mais reduzidas e as poucas companhias aéreas estão a reduzir as operações por questões de segurança.
Alguns mais 'atrevidos' estão a ponderar viajar quase 36 horas por terra, entre Caracas e Bogotá. Uma viagem de mais de 1.000 quilómetros que inclui planícies, zonas montanhosas e estradas que se tornam sinuosas e de menor velocidade, com subidas, descidas e curvas quanto mais próximas dos Andes ocidentais venezuelanos.
"Estou a pensar seriamente fazer esse percurso pela primeira vez, mas tenho medo do que poderei encontrar. Dizem-me que as estradas são seguras, que antes de chegar a Bogotá vou passar por estradas de montanha, com trechos estreitos e sinuosos, mas quando se fala da Colômbia, pensa-se logo na guerrilha", admitiu um luso-descendente à Agência Lusa.
Na direção oposta, para o sudeste da Venezuela até ao Brasil, a procura é menor. Com sorte é possível conseguir um voo de uma empresa venezuelana entre Caracas e Santa Elena de Uairén, a 1.200 quilómetros da capital.
Por terra, até Santa Elena de Uairén (La Línea, fronteira), as preocupações são troços com buracos e manutenção irregular das estradas. De aí até Boavista (Brasil) a distância é de mais de 250 quilómetros e só nessa cidade brasileira é possível apanhar um voo para Manaus.
No terreno, até Boavista, predominam savanas, áreas de transição para a selva amazónica e planícies. Grandes áreas de cactos do deserto rodeiam parte da estrada, onde grandes extensões de terra parecem inabitadas.
No passado dia 21 de novembro, a Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos instou as companhias aéreas a terem "extrema cautela" ao sobrevoarem a Venezuela e o sul das Caraíbas.
Em consequência, várias companhias aéreas internacionais, entre as quais a TAP, cancelaram os respetivos voos na região, e o Ministério dos Transportes da Venezuela e o Instituto Nacional de Aeronáutica Civil (INAC) revogaram a concessão de voos a várias delas, decisão que afetou a companhia aérea portuguesa, a Iberia, a Avianca, a Latam Colombia, a Turkish Airlines e a Gol, que Caracas acusou de "aderirem às ações de terrorismo" promovidas pelos Estados Unidos.
Mais tarde foi também revogada a concessão à Air Europa e Plus Ultra.
Na quinta-feira, a Copa Airlines (Panamá) denunciou que os seus pilotos detetaram "intermitências num dos sinais de navegação" durante uma das operações aéreas e anunciou a suspensão temporária dos voos para Caracas.
Também a panamiana Wingo, Satena (estatal colombiana) e a Boliviana de Aviação (da Bolívia) suspenderam os voos entre Caracas e a Colômbia.
Desde setembro que várias companhias aéreas têm denunciado interferências nos sinais de posicionamento global por satélite durante os voos para a Venezuela.
A tensão entre Washington e Caracas tem vindo a aumentar após o envio de tropas norte-americanas para as Caraíbas, defendido pela Casa Branca como parte da sua estratégia contra o tráfico de drogas provenientes da América Latina, mas que o Governo venezuelano classifica como uma "ameaça" e uma tentativa de promover uma mudança de regime.
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