O declínio Europeu

A Europa continua a narrar-se como um espaço de estabilidade, prosperidade e progresso democrático. A realidade, porém, é outra. Milhões de europeus vivem um quotidiano marcado pelo declínio na segurança, na economia e na capacidade industrial do continente. O que antes se via como risco distante tornou-se uma evidência inegável.

A violência urbana disparou e crimes graves tornaram-se rotina. A presença crescente de segurança privada em espaços que antes dispensavam vigilância é sintomática. Cidades como Magdeburgo e Dresden cancelaram mercados de Natal devido a receios de segurança. Em Londres, multiplicam-se avisos sobre roubos. Em Lisboa, nos metros, lemos “não reagir perante um assalto” ou “a prevenção é a melhor proteção”. Em França, há zonas onde a polícia admite não conseguir intervir. Quando o Estado diz às vítimas que se protejam sozinhas, é sinal claro de falência do contrato social.

A economia europeia acompanha este declínio. Salários estagnaram, profissionais qualificados não competem com equivalentes nos EUA e, num sinal gritante, um gerente de fast-food norte-americano ganha mais que um especialista europeu. Portugal não é exceção. Para além dos baixos salários, um cidadão paga por existir, com impostos sobre propriedade, circulação e quase todos os movimentos económicos. Países como a Bélgica oferecem melhores salários, condições de trabalho mais justas e custos de vida mais equilibrados, e nós continuamos a desperdiçar talento e oportunidades.

O uso de energia na Europa revela outro sintoma do declínio. Enquanto China e Estados Unidos expandem o consumo energético como reflexo de produção e crescimento, a Europa consome menos. Essa redução não se deve a eficiência ou preocupação ambiental, mas à estagnação económica. Um continente que produz menos consome menos energia, mostrando que a ambição de crescer e inovar deu lugar à passividade regulatória.

Enquanto isso, Estados Unidos e China avançam rapidamente. Táxis autónomos, logística automatizada e ecossistemas tecnológicos robustos já são realidade. A Europa, em contraste, afoga-se em comissões, regulamentos e burocracia, travando qualquer tentativa de inovação antes mesmo de nascer.

As fragilidades não são apenas económicas. Também a democracia europeia dá sinais de tensão. Em vários Estados-membros, figuras políticas da oposição enfrentam investigações, processos ou impedimentos em momentos particularmente sensíveis. Concorde-se ou não com as suas ideias, uma democracia saudável não deve parecer temer a disputa eleitoral, sob pena de corroer a confiança dos cidadãos nas instituições.

O maior perigo, contudo, pode vir da indústria. Na China, Zhengzhou recebe uma fábrica de 129 km², uma verdadeira cidade de produção capaz de fabricar mais de um milhão de veículos por ano. Este projeto ultrapassa qualquer equivalente europeu e projeta uma nova hegemonia na mobilidade elétrica. Perder a cadeia automóvel europeia significa entregar um dos últimos pilares de empregos qualificados e da soberania industrial do continente. Portugal, e distritos como Braga, Leiria, Setúbal e Aveiro, sentirão o impacto.

É importante reconhecer que o problema europeu não é falta de talento. A Europa continua a formar engenheiros, investigadores e quadros altamente qualificados. O que falta é velocidade, ambição e capacidade de decisão. Enquanto discutimos limites, outros expandem fronteiras, enquanto regulamos, outros constroem, enquanto debatemos, outros executam.

A Europa precisa de reencontrar a capacidade de agir como um bloco coeso, capaz de tomar decisões estratégicas rápidas e de criar condições que favoreçam o investimento e a inovação. Persistir na inércia é aceitar uma posição periférica num mundo que se move a um ritmo cada vez mais acelerado.

O futuro não espera. A questão é simples: a Europa quer liderar, ou assistir da bancada?

Zózimo Castro