A dois Meninos, também do Natal, obrigado

Obrigados e gestos de gratidão de Natal e Fim de Ano. Neste Natal e fim de ano sinto gosto e obrigação em agradecer: O quê e a quem? Os presentes que me dão a contemplar. Um deles foi uma família que viajava no mesmo transporte. Era e não era a do Menino Jesus. Eram dois meninos, mas já andavam. Um maior que outro com roupa que parecia gêmea, mas não seria: Os pais eram uma versão recriada de S. José e de Maria. O centro dos cenários era mesmo dos meninos. As cenas iam-se sucedendo na caminhada e interações da viagem e dos percursos com acompanhantes, malas, carro de bebé e os brinquedos simples à medida de meninos a deixarem de ser bebés. Brincavam com dois bonecos e já não se interessavam com o carrinho carregado de tralha da família. Os meninos alternavam a brincadeira com bonecos, um com o outro e de influencers do pai e da mãe; mais do pai que reagia com atenção carinhosa, sorrisos e silêncio. Se perguntassem aos meninos porque eram crianças contentes, não saberiam dizer com grandes discursos: Os adultos, sim. Discursos de adultos as crianças não entendem, mas vivem-nos e as palavras dos adultos podem exprimir o que eles sentem. Agradeço-lhes o que me fizeram sentir e viver. Vou dizê-lo, não para os meninos, mas para outros adultos com a sensibilidade afinada para captar o que é indizível, mas visível. Os pais desses meninos, fiquei com impressão, não precisam que lhes expliquem o que os filhos sentiam: Eles, seus pais, entendiam. O pai parecia viver tudo isso quase mais com o silêncio e algum sorriso ora para um menino ora para outro e com poucas palavras. Tão poucas que não saía da dúvida de que língua falava das daqueles companheiros de viagem. Os gestos eram mais claros. Aquele pai ora se baixava ao nível dos meninos que deambulavam pelo chão à sua volta para olhar e sorrir a um e dizer algum monossílabo a outro, e a pegar, ao colo, um deles. A mãe, essa, assistia a tudo com uma certa passividade ativa a pensar: estão felizes, basta. Deixava viver, ajudava a viver e vivia, olhando, contemplando, em silêncio sorridente e contemplativo.

Haveria alguma semelhança neste presépio vivo com o do Menino, Maria e José deste Natal e deste Ano Novo e de todos os Anos Novos para vir? Penso que sim, mas o Menino sabe melhor que este pobre velhote.

Bem. Perguntará: mas afinal, diga lá o que pensa que os meninos sentiam, porque estavam felizes e sem medo de nada nem de ninguém, naquele mundo tão próximo e tão temerosos? Medo de quê, medo de quem? Penso que nem de mim a quem estavam a oferecer o seu espetáculo divinal, tão espontâneo, e me viam sorrir e piscar os olhos, também sem dizer nada, mas a agradecer. Aqui vai o que me atrevo a adivinhar: por que havemos de ter medo, diriam? O nosso pai e a nossa mãe estão aqui connosco, gostam de nós e nós gostamos deles. Agradecer o quê e a quem, perguntei acima? Todo o bem e a todos os seus autores. Também agradeço àqueles meninos e seus pais. E dar graças também Àquele que mais nos ama. Em rigor, não devemos passar nenhum dia, como recomendava o Papa Francisco, sem dizer: obrigado; e desculpe se não fazemos o bem que deveríamos ter feito.

O medo é o sentimento ou emoção mais frequente que as pessoas experimentam. E mais espantoso é que muitos homens se associam ao diabo para ganhar dinheiro a meter medo. Aquele que nunca teve medo, O Menino Jesus do Natal, por isso, de uma maneira ou de outra, por Ele ou pelos seus mensageiros, pediu muitas vezes no Evangelho: não temas, não tenhais medo; eu estou aqui, eu estarei sempre convosco. Alguns falam mesmo de que “não temas” aparece mais de 365 vezes na Bíblia. Não sei se o número está certo. E Maria, a Mãe de Jesus, também não se cansa de o repetir as crianças e adultos a quem fala nas suas aparições. Não podemos deixar de agradecer.

Uma das vezes, em Guadalupe, disse a João Diogo, um “menino” adulto: “Ouve e entende bem, meu filho mais pequeno, que aquilo que te assusta e aflige não é nada; não se perturbe o teu coração, não temas essa doença nem qualquer outra doença ou angústia. Não estou eu aqui, que sou tua Mãe? Acaso não estás sob a minha proteção e amparo? Não sou eu a tua saúde? Não estás porventura no meu regaço e entre os meus braços? De que mais precisas?” Aquele dois meninos deste Natal terão ouvido o algo de semelhante no seu coraçãozinho: Não estamos nós aqui, que somos teu pai e tua mãe? Sim. Devem ter sentido. E nós temos medo de ser “meninos” adultos?

Aires Gameiro