Pedofilia, inveja e desequilíbrio mental
Nos últimos dias a sociedade portuguesa foi confrontada com dois casos absolutamente chocantes que colocaram a nu o lado mais triste, abjecto e macabro de um ser humano. De um lado Paulo Abreu dos Santos, um cidadão ex-adjunto da antiga Ministra da Justiça Catarina Sarmento e Castro, indiciado pelos crimes de pornografia infantil e abuso sexual de menores. A investigação terá sido desencadeada pelo FBI nos EUA tendo-lhe sido apreendidos em casa mais de 500 ficheiros de imagens e vídeos. Duas crianças de 10 anos terão sido inclusivamente alvo de abusos por parte do advogado que confessou os crimes a um juiz durante o processo de interrogação. Pensa-se que poderão ser mais e que várias delas possam estar incluídas no círculo de amizade do mesmo. Do outro o assassinato de 3 pessoas nos Estados Unidos, que se pensa terem sido perpetrados por Claudio Valente, um físico português que foi inclusivamente colega de Nuno Loureiro uma das vítimas do ataque. Descrito como muito inteligente, problemático, depressivo e quezilento, viria a suicidar-se pouco depois, ao se aperceber que estaria prestes a ser descoberto.
São duas situações aparentemente bem diferentes, seja na sua forma como no conteúdo, nas razões e nos propósitos mas que têm uma base comum. O desequilíbrio mental e o lado mais irracional da mente humana. Passamos a nossa vida assoberbados com os nossos próprios problemas, vivemos em bolhas muitas vezes para nos protegermos do exterior, outras por mero comodismo ou egoísmo e prestamos pouca atenção ao que se passa à nossa volta. Somos por isso pouco diligentes em chamar à atenção para comportamentos ou tendências comportamentais suspeitas, talvez por receio que isso nos possa colocar no epicentro da confusão ou porque nos alheamos cada vez mais das vidas e vivências que se desenrolam mesmo ao nosso lado. Não estou com isso a colocar as culpas na sociedade porque aqui existe uma culpa própria evidente embora no caso do físico se consiga identificar um estado de frustração, talvez de inveja e de uma sensação de injustiça que nunca conseguiu abandonar.
Em relação à pedofilia para uma pessoa normal é algo muito difícil de explicar. Não consigo sequer encontrar explicação ou que tipo de desejo se possa configurar numa criança que os faça ter tais ímpetos. Isso causa-nos revolta e uma sensação de impotência. E acredito que muita da explicação estará na genética o que nos coloca perante a impossibilidade de uma possível reinserção. O livro preferido de Abreu dos Santos é um ensaio sobre a origem neurológica do mal no ser humano. Nesse mesmo livro lê-se que “não se pode escolher ser pedófilo mas pode-se escolher não ser um abusador de crianças” colocando ênfase na tendência genética. Aliás o próprio advogado considerando o livro “imprescindível para quem procura compreender a natureza humana e quão pouco racionais podem ser as nossas escolhas” já nos dava pistas sobre a sua conduta e o seu “vício”. Não é aliás por acaso que escolheu há tempos no jornal ECO, o filme “Joker” como destaque, dizendo sobre ele que “há uma dimensão humana e psicológica que nos devia levar a todos a refletir sobre quem são os verdadeiros vilões”
A instabilidade e a inquietação do tempo presente é assim levada ao extremo. A inveja e o desespero da angústia, a percepção do que não foi feito ou não se conseguiu atingir e a falta de uma estabilidade familiar que muitas vezes é o garante de uma linha vermelha que não pode nem deve ser ultrapassada podem também ter contribuído para estes e outros casos que infelizmente vamos vendo por aí. Não é por acaso que muitos consideram as doenças do foro psicológico o grande desafio do século XXI. E se alguns procuram ajuda, outros fecham-se em si mesmos, isolados do mundo, construindo as suas próprias narrativas e desenvolvendo critérios que não são mais do que meras projeções fictícias (e distantes) da realidade.
Frases soltas:
Ainda a propósito de desequilíbrio mental, a nova tendência na Alemanha consiste em passar cães imaginários na rua. As pessoas imaginam um cão e passeiam no parque apenas com a trela e coleira. Chama-se “hobby dogging” e parece que já existem inclusivamente workshops sobre o tema. É assim que estamos…
A semana passada, tinha viagem marcada para a Madeira mas infelizmente, devido aos ventos não foi possível. No dia anterior a TAP e a EasyJet cancelaram os seus voos mas o meu da RyanAir manteve-se, mesmo contra todas as informações que me chegavam do aeroporto Cristiano Ronaldo. Partiu duas horas depois da marcada, deu várias voltas à ilha e voltou para Lisboa. Porque é que esta estratégia é implementada recorrentemente por esta companhia? Fica a questão.
P.S. Aproveito para desejar aos leitores e a toda a equipa do Diário, um Feliz Natal!