Acordos europeus podem resultar numa quebra de 20% na possibilidade de pesca para Portugal
A Associação dos Armadores das Pescas Industriais disse que os acordos sobre as capturas em 2026 alcançados pelos estados-membros da UE podem resultar numa quebra de 20% nas possibilidades de pesca para Portugal, com maior impacto na sarda.
"Em relação aos 'stocks' que foram objeto de decisão nesta última reunião em Bruxelas, e tendo em conta que vários 'stocks' ainda não estão fechados porque dependem de negociações a decorrer com estados terceiros, Portugal acaba por obter uma aparente quebra de 20% nas suas possibilidades de pesca", adianta a Associação dos Armadores das Pescas Industriais (ADAPI), em comunicado hoje divulgado.
"Se analisarmos os 'stocks' estabelecidos ontem [sexta-feira, dia 12 de dezembro] juntamente com os que já estavam decididos ou são previsíveis, em negociações na NAFO, ICCAT, ou com Noruega, vemos que Portugal conta em 2026 com uma redução das suas possibilidades de pesca em 20.775 toneladas (-17,5%), embora este número ainda possa variar à medida que as negociações abertas vão encerrando", acrescenta a associação.
Os ministros das pescas europeus chegaram a acordo sobre as capturas em 2026, com uma previsão de reduzir o volume global, nalguns casos com impacto em Portugal, como é o caso do carapau, solha ou linguado.
O acordo, hoje anunciado, prevê o volume de capturas das embarcações europeias no Atlântico, mar do Norte, Mediterrâneo, Báltico, mar Negro e, nalguns casos prevê também o risco para "determinadas unidades populacionais para 2027 e 2028", segundo o comunicado da UE.
Segundo a ADAPI, o "maior impacto negativo está na Sarda", cujas possibilidades de pesca "são brutalmente cortadas em 76%, para as 1.098 toneladas", aponta, acrescentando que "a União Europeia foi a única a fazer um corte tão profundo neste 'stock', enquanto os governos das restantes potências pesqueiras, cuja sobrepesca causa esta queda (Reino Unido, Noruega, Ilhas Faroé, Rússia...), anunciaram que não aceitam uma tal redução para as suas frotas".
Na mesma nota, a associação critica Bruxelas por sacrificar as suas comunidades pesqueiras "para dizer que são os únicos a cumprir regras que mais ninguém respeita, tudo isto enquanto o mesmo peixe, pescado por estados terceiros, acaba importado para o mercado único na mesma".
Entre os impactos negativos resultantes deste acordo, a ADAPI aponta "a quebra das quotas do lagostim, do linguado, e de solha para os valores mais baixos de sempre", uma redução de 22% e 25%, face a 2025.
A quota de tamboril, "cuja pesca dirigida se encerrou há um mês atrás, tem uma surpreendente redução de 1% quando o parecer científico dava margem para aumento" e "o carapau, em que a quota de 39.521 toneladas para 2026 é a mais baixa desde 2014, embora ainda esteja acima do que têm sido as capturas dos últimos anos", acrescenta.
A ADAPI destaca os "aumentos na quota da pescada, dos areeiros (155 toneladas), e dos tamboris, que representam o valor mais alto dos últimos 10 anos".
Quanto ao bacalhau, a associação prevê "um aumento de 29%" nas quotas fixadas pela Organização de Pescas do Atlântico Noroeste (NAFO) para "3.507 toneladas, e uma redução de 14% nas quotas previstas (mas ainda não assinadas) na Noruega e Svalbard, para 3.094 toneladas".
"Mais do que o aumento de 4,4% das quotas agregadas face a 2025, importa notar que é a primeira vez neste século em que as possibilidades de pesca ao largo do Canadá serão superiores às das águas administradas por Oslo", adianta.
No comunicado, a associação disse concordar com a posição do comissário para as Pescas e Oceanos, que afirmou que o setor tem de ser sustentável, competitivo e resiliente, mas alertou que "estas afirmações têm de ser acompanhados de mudanças na Política Comum de Pescas, e da prática da própria Comissão Europeia, que ainda estão reféns de preconceitos e receitas do século passado, apontando sempre para a redução da produção, redução do emprego, e aumento das importações", remata.