Por uma melhor mobilidade na Macaronésia
A Macaronésia vive um momento determinante. As ilhas atlânticas deixaram de ocupar o lugar periférico a que tantas vezes foram remetidas e começam a afirmar-se como espaços de confluência, onde a mobilidade humana, a criatividade e o conhecimento geram novas centralidades. Esta perceção ganhou especial nitidez nas Jornadas da Mobilidade da Macaronésia 2025, nos dias 4 e 5 de dezembro, organizadas pela Associação da Macaronésia das Canárias com o apoio do Governo Regional de Las Palmas, onde tive a honra de participar como oradora convidada em dois painéis, um dos quais com a presença do Presidente da companhia aérea Binter, do ex-Presidente do Governo de Canárias e do Diretor Regional dos Transportes dos Açores.
A reflexão apresentada nas Jornadas reforçou uma evidência: as regiões insulares prosperam quando avançam juntas. Referi o exemplo da CARICOM, nas Caraíbas, um caso claro de como economias, culturas e sistemas educativos podem ganhar escala quando existe uma identidade regional assumida e trabalhada com persistência. A Macaronésia encontra-se hoje precisamente diante dessa possibilidade.
Foi nesse espírito que sublinhei a importância de uma atuação coordenada entre as associações de promoção da Macaronésia, representadas nos quatro arquipélagos e os respetivos governos. A criação de um grupo de trabalho que reuna cultura, educação, economia, turismo e solidariedade permitiria transformar intenções em programas concretos e dar estabilidade a um projeto comum. O futuro da região exige continuidade, metas partilhadas e mecanismos que facilitem o diálogo entre arquipélagos. Um bom exemplo de cooperação já existente e com excelentes resultados foi inclusivamente apresentado nestas Jornadas, pela Engª Paula Cabaço, Presidente do Conselho de Administração da APRAM (Portos da Madeira) e Presidente da Associação Internacional dos Portos da Macaronésia.
É importante referir que as Canárias mantêm uma estratégia de cooperação regular com África e com Cabo Verde, desde há vários anos. Esses laços, construídos passo a passo, mostram que as ligações atlânticas ganham força quando são mantidas com consistência e objetivos claros. Ensina-nos, também, que não basta criar encontros pontuais: é preciso torná-los parte de uma estratégia duradoura.
É neste contexto que a Madeira assume um papel particularmente relevante ao acolher, em 2026, a Cimeira Internacional da Macaronésia. Trata-se de uma oportunidade rara para consolidar ambições e propor um gesto cultural conjunto que una os arquipélagos numa memória partilhada; um símbolo tangível do que podemos construir quando trabalhamos em harmonia.
A força de uma região mede-se pelo movimento que inspira. Quando a Macaronésia demonstrar circulação efetiva de pessoas, cultura, conhecimento e economia, o seu reconhecimento estratégico na União Europeia deixará de ser aspiração para se tornar realidade. Esse futuro está a ser desenhado agora. Cabe-nos decidir que comunidade atlântica queremos projetar para as próximas gerações.