DNOTICIAS.PT
Mundo

Papa Leão XIV insta Turquia a ser fonte de estabilidade em primeira viagem ao estrangeiro

None
FOTO VATICAN MEDIA HANDOUT/EPA

O Papa Leão XIV encorajou hoje a Turquia a ser uma fonte de estabilidade e diálogo num mundo dividido por conflitos, iniciando com um apelo para a paz a primeira viagem internacional do seu pontificado.

Num contexto de esforços para pôr fim às guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, o Papa norte-americano instou à paz à chegada a Ancara, onde foi recebido na pista de aterragem por uma guarda de honra militar e no palácio presidencial pelo Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Falando para Erdogan e para o corpo diplomático do país numa biblioteca no complexo do palácio, Leão XIV elogiou o papel histórico da Turquia como ponte entre o Oriente e o Ocidente, no cruzamento de religiões e culturas.

"Que a Turquia seja uma fonte de estabilidade e de aproximação entre os povos, ao serviço de uma paz justa e duradoura", disse, falando em frente a um globo terrestre gigante.

"Hoje, mais que nunca, precisamos de pessoas que promovam o diálogo e o pratiquem com vontade firme e paciente determinação", sublinhou.

A visita do chefe da Igreja Católica acontece numa altura em que a Turquia, um país com mais de 85 milhões de habitantes, maioritariamente muçulmanos sunitas, se apresenta como um intermediário fundamental nos esforços para pôr fim aos conflitos na Ucrânia e em Gaza.

Ancara acolheu várias rondas de negociações com a Rússia e com a Ucrânia, em separado, e ofereceu-se para participar na força de estabilização em Gaza, para ajudar a supervisionar o frágil cessar-fogo em vigor.

Israel, que há anos mantém relações tensas com a Turquia, acusa Ancara de apoiar o movimento islamita palestiniano Hamas, desde 2007 no poder na Faixa de Gaza, e afastou qualquer hipótese de participação das tropas turcas numa força de estabilização.

Leão XIV não referiu os conflitos especificamente, mas citou o seu antecessor, o Papa Francisco, ao lamentar que as guerras que hoje assolam o mundo equivalham a uma "terceira guerra mundial travada de forma fragmentada", com recursos gastos em armamento em vez de no combate à fome e à pobreza e à proteção da humanidade.

"Após duas guerras mundiais, estamos agora a viver uma fase marcada por um elevado nível de conflito a nível global. Não podemos ceder a isso! O futuro da humanidade está em jogo", defendeu.

No seu discurso, o chefe de Estado turco disse que a questão palestiniana é fundamental para alcançar a paz na região do Médio Oriente e elogiou o que descreveu como a "posição firme" do Vaticano sobre o assunto.

Erdogan afirmou que devem ser tomadas medidas imediatas para reforçar o cessar-fogo alcançado em Gaza, proteger os civis e garantir a distribuição ininterrupta de ajuda humanitária.

As suas palavras foram atentamente acompanhadas, uma vez que o primeiro discurso de qualquer viagem papal define o tom da sua visita.

Isto é ainda mais verdade para esta primeira viagem ao estrangeiro do primeiro Papa norte-americano, que falará na Turquia sempre em inglês, numa mudança em relação ao Vaticano, centrado na cultura italiana.

Foi também significativo que o Papa tenha comentado a situação das mulheres na Turquia.

"As mulheres, em particular, através dos seus estudos e da participação ativa na vida profissional, cultural e política, estão cada vez mais ao serviço da sua comunidade e da sua influência positiva na cena internacional", sustentou.

"Devemos, por isso, valorizar muito as importantes iniciativas a este respeito, que apoiam a família e o contributo que as mulheres dão para o pleno florescimento da vida social", acrescentou.

Os ativistas pelos direitos das mulheres continuam a condenar a saída de Erdogan, em 2021, da Convenção de Istambul, um tratado europeu histórico assinado em 2011 naquela cidade turca para proteger as mulheres da violência, um passo que os críticos dizem enfraqueceu as garantias de segurança.

De acordo com o grupo de defesa We Will Stop Femicide, 237 mulheres foram mortas na Turquia em 2025, a maioria por maridos, companheiros ou familiares, ao passo que outras 247 mulheres foram encontradas mortas em circunstâncias suspeitas.

Esta semana, Erdogan apresentou um novo plano de cinco pontos para combater a violência contra as mulheres, entre os quais a promoção de uma cultura de respeito, o reforço das proteções jurídicas e a reabilitação dos agressores.

Depois de Ancara, Leão XIV segue para Istambul, para reuniões e orações com líderes cristãos ortodoxos, bem como com representantes da comunidade muçulmana maioritária da Turquia. De seguida, viaja para o Líbano no domingo.

O principal motivo da viagem do Papa à Turquia é a celebração do 1700.º aniversário do Concílio de Niceia, uma reunião sem precedentes de pelo menos 250 bispos de todo o Império Romano.

O acontecimento deu-se numa época em que as igrejas do Oriente e do Ocidente ainda estavam unidas. Separaram-se no Grande Cisma de 1054, uma divisão precipitada em grande parte por divergências sobre a primazia do Papa.

A visita permitirá ainda a Leão XIV fortalecer as relações da Igreja Católica com os muçulmanos. O Papa deverá visitar a Mesquita Azul e presidir a um encontro inter-religioso em Istambul.

Asgin Tunca, imã da Mesquita Azul, que receberá o Papa, disse que a visita ajudará a fortalecer os laços entre cristãos e muçulmanos e a dissipar os preconceitos populares sobre o Islão.

"Queremos refletir esta imagem mostrando a beleza da nossa religião através da nossa hospitalidade --- é esse o mandamento de Deus", declarou Tunca.