Gosto de mar, confesso. Gosto de barcos, principalmente veleiros. Até podem ter motor e locomover-se com o dito cujo a maior parte do tempo, pouco interessa, um veleiro é um veleiro e, só por isso, é romântico, seja lá isso o que for. Gosto do Mediterrâneo. Nunca por lá naveguei, mas evoca-me pretéritas civilizações, berço da cultura e civilização europeias. Em suma, adorava fazer um cruzeiro de veleiro pelo Mediterrâneo e, cereja no topo do bolo, na óbvia espectativa de regresso de avião, que o filme em “reverse”, atravez daquele seria já fastidioso.

Alguns sortudos terão sabido, em tempo útil, da organização de tal cruzeiro com tão apelativo itinerário, a pagar em suaves prestações mensais pelo bolso de cada qual, pelo menos quanto à ida; infelizmente, não o soube a tempo, senão teria “dado o nome” para tão romântico passeio.

Como não sou invejoso nem comichoso, desejo aos sortudos uma óptima estada e um feliz regresso, aéreo certamente. Quero no entanto fazer um pedido a quem de direito que esteja ou vá coordenar o “regresso dos heróis”: por favor, nada menos que classe executiva, na TAP ou, para não chegarem tarde e más horas, numa outra qualquer companhia, que eles merecem pelo esforço de entregar meia dúzia de bananas e outras tantas latas de conserva de sardinhas marinadas em autêntico “portuguese olive oil” a uns desgraçados que, à evidência, nunca lhes verão a cor. Mas isso não interessa, o circo está montado, basta e estupidamente noticiado, ilustrado e dramatizado pelos mídia para captação da atenção e agitação da turba e, simultaneamente, com oferta de “xanax” para os espíritos desassossegados com o mais que previsível rumo à total irrelevância política de alguns, sendo certo que, para os nossos valerosos argonautas, o sofrimento e humilhação daqueloutros desgraçados pouco ou nada genuinamente interessa.

P.S.:

1 - Soube há pouco que os nossos intrépidos navegantes, numa demonstraçäo de civismo e responsabilidade ambiental, lançaram ao mar telefones e garrafões de plástico, certamente que como parte de uma bem orquestrada campanha para demonstrar, à evidência, aos peixinhos, os malefícios da poluição humana.

2 - Espero bem que o dito regresso não seja pago com o dinheiro dos nossos impostos.

Luis Feber