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A Guerra Mundo

ONU inquieta com ataques ao sistema energético antes de inverno rigoroso

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Foto ShutterStock

O coordenador humanitário da ONU para a Ucrânia manifestou-se hoje particularmente preocupado com o impacto na população civil dos "contínuos ataques" russos contra o sistema energético do país, face à chegada de um inverno que se antecipa muito frio.

Em conferência de imprensa no quartel-general das Nações Unidas em Genebra, Suíça, para dar conta da situação humanitária na Ucrânia, Matthias Schmale sublinhou que uma das grandes preocupações da ONU atualmente prende-se com os ataques incessantes por parte da Federação Russa "contra as capacidades de produção de energia e instalações de distribuição de energia, incluindo gás", em vésperas da chegada do inverno.

"Se o inverno for muito mais frio do que o do ano passado, como é atualmente antecipado, e se este ritmo de destruição [de infraestruturas energéticas] continuar, estamos muito preocupados, sobretudo com as pessoas que vivem em prédios altos em cidades localizadas na linha da frente", disse, acrescentando que pode ser esperada "uma grande crise".

Dando conta de uma acentuada queda no financiamento para assistência humanitária desde o início da invasão em grande escala da Ucrânia pelas forças russas, em fevereiro de 2022, Schmale apontou que "simplesmente não há recursos suficientes para acompanhar o ritmo da constante destruição de capacidades de energia" do país.

Por outro lado, salientou, os ataques ao setor energético constituem também "uma forma de terror" para a população civil e contribuem para o que classificou como "a crise de saúde mental, muitas vezes ignorada".

"Destruir capacidades de produção e distribuição de energia quando o inverno está a chegar tem impacto na população civil e é uma forma de terror", disse, acrescentando que "os contínuos ataques por todo o país também provocam uma sensação de que nenhum sítio é seguro".

Essa intensificação dos ataques por parte da Rússia, prosseguiu, provoca também outro fenómeno que classificou como dos mais preocupantes do ponto de vista humanitário, o das deslocações internas.

"O aumento da pressão militar e dos ataques na linha da frente estão a levar a que as evacuações estejam novamente a aumentar", disse, estimando em cerca de 3,5 milhões o número atual de deslocados internamente, entre os quais muitas pessoas vulneráveis, "designadamente idosos e pessoas com problemas de mobilidade".

O principal coordenador humanitário da ONU para a Ucrânia também revelou especial inquietação com os ataques da Rússia a serviços básicos, designadamente de prestação de cuidados de saúde, assinalando que foram registados este ano, entre janeiro e outubro, "364 ataques contra infraestruturas de cuidados médicos", recordando que "ainda há poucos dias foi atingido um hospital pediátrico em Kherson".

Quando se aproxima o quarto aniversário do início da agressão militar russa à Ucrânia, Matthias Schmale disse que, com base nas suas frequentes deslocações a Kiev e até à linha da frente, a sensação que tem "no terreno", é a de que "esta parece cada vez mais uma guerra prolongada".

"Houve fases, este ano, em que houve uma confiança cautelosa de que a guerra poderia acabar, mas atualmente não parece que vá terminar em breve", lamentou.