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Português esculpiu urna do novo santo venezuelano

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Um ebanista português de 53 anos esculpiu, a pedido da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), a urna onde repousam os restos mortais de José Gregório Hernández, que ontem foi canonizado santo pelo Papa Leão XIV.

Emigrado na Venezuela desde 02 de maio de 1987, então com 14 anos de idade e natural de Rebordosa, Paredes, no distrito do Porto, José António Moreira da Silva é a terceira geração de carpinteiros, sendo o avô "pioneiro na fabricação de móveis" naquela localidade portuguesa.

"Sou carpinteiro desde pequenino. Primeiro foi o meu avô, depois o meu pai e depois eu. Fui contactado pela igreja, pela minha trajetória profissional, porque tinham-me escolhido para esculpir a urna de José Gregório Hernández", começou por explicar à Lusa.

Emocionado, explicou que os restos mortais de José Gregório Hernández repousam na igreja de La Candelária (no centro de Caracas), onde se batizaram centenas de luso venezuelanos e que até maio de 2021 "não tinha um altar como tal" e foi então que foi contactado pela igreja.

"Reuni-me com eles [CEV], com o padre Gerardino Barracchini, da igreja de La Candelária, e o arquiteto José Gregório Bertulio. Pediram-me que utilizasse uma madeira muito resistente, dura. Foi um trabalho muito especial, feito não apenas com carinho, mas com amor e muita devoção. Utilizei 'madeira de puy' e um padrão de junção conhecido entre os profissionais como 'cola de milano", disse.

José António Moreira da Silva explicou ainda que "se a urna fosse quadrada seria fácil de fazer, mas tinha uns ângulos e umas características particulares" e um processo complicado de junção "para que as madeiras ficassem unidas e o trabalho perfeito".

O altar de José Gregório Hernández, na Igreja de La Candelária, contem um pedestal de mármore protegido por uma imagem da Virgem do Carmo, principal devoção mariana do novo santo e 'médico dos pobres'.

No centro da obra está a sua imagem e na parte inferior a urna de madeira, uma estrutura em forma de trapézio, com 54 centímetros de comprimento que correspondem à idade da sua morte, 23 centímetros de largura, a idade que tinha quando se formou médico, e 31 centímetros de profundidade, o tempo em que esteve ao serviço da medicina.

A caixa interna tem uma dimensão de 17 centímetros de altura, relativa à idade que José Gregório Hernández tinha quando começou a estudar medicina.

A urna que contém um monograma com as iniciais do novo santo na tampa superior está suspensa sobre lâminas de aço inoxidável impercetíveis à vista, dando uma sensação de levitação, no meio de um banho de luz, uma composição artística do arquiteto José Gregório Bertulio.

O Papa Leão XVI canonizou hoje os primeiros santos da Venezuela, o 'médico dos pobres' José Gregório Hernández e a irmã religiosa Madre Carmen Rendiles.

Segundo a Diocese de Caracas, José Gregório Hernández Cisneros nasceu a 26 de outubro de 1864 na pequena localidade de Isnotú, no estado de Trujillo, no centro-oeste da Venezuela.

Filho de Benigno Hernández, comerciante e proprietário de um armazém, e de Josefa Antónia Cisneros, era o mais velho de seis irmãos.

O seu trabalho como médico transcendeu a prática da medicina. As suas consultas estavam abertas a pacientes de qualquer classe social.

Morreu em Caracas em 29 de junho de 1919.

A madre Carmen Elena Rendiles Martínez nasceu a 11 de agosto de 1903 em Caracas.

Foi uma católica venezuelana membro das Servas da Eucaristia e fundadora das Servas de Jesus de Caracas.

Morreu em Caracas em 09 de maio de 1977.