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Crónicas

Eleições no “meu” Benfica

Sou do Benfica desde que me conheço e sócio desde que nasci, graças ao meu Pai que fez questão de me deixar a sua marca e passar o seu legado. Aprendi a ler com o jornal “A Bola” ainda em formato lençol e recordo-me ainda hoje do dia em que chorei baba e ranho ao ver Veloso falhar o penálti decisivo naquela fatídica final europeia contra o PSV. Cresci a viver o meu clube de uma forma apaixonante, o futebol tem esta magia que não se explica, sente-se. O amor pelo clube que me fazia programar os meus dias em função dele e dos seus jogos. Na escola e na rua o “nós” eram os do Glorioso e os “outros” os dos outros clubes. Cada vez que conhecia alguém, se esse alguém era dos “meus” já ganhava um ponto na minha consideração e empatia. Colecionava cromos e calendários, passava dias com a camisola vermelha vestida e fazia das minhas idas ao velhinho estádio da Luz, pela mão do pai, como o momento mais importante da minha existência. Passava tardes inteiras no tapete da sala de casa da minha avó a espalhar calendários com as caras dos jogadores, com disposições táticas, imaginando os jogos e as formações que a mim me faziam mais sentido. Jogos esses que ouvia num pequeno rádio que tinha no meu quarto quando eles não passavam na televisão.

Recordo-me numas férias de família, na Serra Nevada, de ter feito o meu pai ir até ao ponto mais alto possível para apanhar uma estação de rádio portuguesa, onde ouvimos com dificuldade o golo de Vata contra o Marselha. O Benfica era para mim uma família, uma religião, um espaço onde os sonhos cresciam e ganhavam forma, os que vestiam da mesma cor faziam por isso automaticamente parte dela. À medida que fui crescendo fui aprendendo a controlar o sofrimento das derrotas e a desvalorizar o impacto que elas tinham em mim mas a relação essa mantém-se inalterada. É-me por isso muito difícil de ver esta versão pré-eleitoral em que os “nossos” são desta ou daquela lista e os “outros” os inimigos são de outras listas. Parece que o Sporting e o Porto passaram para segundo plano e o ódio e a rivalidade passaram para dentro de nossa própria casa. Um clube de quintais e de quintinhas, dos bons e dos maus, dos que acham que têm mais direito que outros, dos que não conseguem compreender ou respeitar uma opinião contrária nem de perceber que o objectivo deveria ser comum.

De repente o clube dividiu-se e partiu-se, movem-se campanhas de difamação, ataques pessoais e usa-se de tudo para queimar ou deslaçar a imagem de quem não está do “tal lado certo”. É uma tristeza ver que o foco se voltou para dentro e não para fora. Que se usem todo o tipo de armas e ferramentas para tentar ganhar as eleições e se montem autenticas milícias para tentar difundir informações erradas e mentirosas com o objectivo de condicionar a opinião de outros sócios. Posso até dar o meu próprio exemplo. Fui convidado há dias para comentar na SIC Notícias a situação do Benfica e da chegada de José Mourinho como adepto. Fi-lo como faço sempre nesta página, tentando dar o meu contributo e a minha opinião sincera. Não tomei partidos porque não os tenho e apelei à união de todos e ao fim deste clima de guerrilha. Passado umas horas fui surpreendido com posts e mensagens caluniosas, associando-me a uma candidatura e usando crónicas minhas antigas em que criticava o candidato para dizerem que me tinha vendido por uma vice-presidência na lista do mesmo, trazendo inclusive coisas da minha vida pessoal para me tentarem diminuir. Mas comigo têm azar que eu não me deixo condicionar.

Não apoio nenhum candidato nem faço parte de nenhuma lista porque não contribuo para este clima de guerrilha e não ponho os meus interesses pessoais à frente do meu Benfica. Não me identifico com nada disto. Dos projectos desportivos, da visão estratégica para o futuro, das soluções para a academia ou transição digital pouco se tem ouvido. Só se apresentam jogadores, prometem-se estádios e cidades do futebol. Faz-se tudo para ganhar as eleições esquecendo-se do que verdadeiramente interessa. Que dia 25 de Outubro ganhe o melhor, que se termine com este circo e que se comece a punir esta gente que faz da critica gratuita um modo de vida. Respeitem os sócios e o emblema.

Frases soltas:

Começamos a ver uma luz ao fundo do túnel na guerra de Gaza. Que seja de facto o principio do fim de um conflito que levou tanta gente inocente e que causa tanto sofrimento a quem não tem culpa nenhuma.

Maria Corina Machado acaba de vencer o Prémio Nobel da Paz. Um símbolo de uma luta contra o comunismo e o poder ditatorial que vai sendo responsável pela miséria de um povo e de um país com tanto potencial. Que seja um ponto de viragem para a Venezuela