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O apego ao Poder

A saga errática protagonizada desde final de janeiro pelo demissionário presidente Albuquerque, (primeiro na resistência à demissão, depois, ao empurrão “amigo” que o precipitou a demitir, e agora, à ânsia do retorno à plenitude do poder), consubstancia aquela máxima do Nobel russo de 1958, Boris Pasternak: «aqueles que detêm o poder, tanto anseiam por estabelecer o mito da sua infalibilidade, que se esforçam ao máximo por ignorar a verdade.»

No mês em que se celebra meio-século de democracia, da qual a autonomia política foi parida, são os pretensos defensores da mesma, que a traem e vilipendiam. Um partido que marginalmente reconfirma a sua liderança num indivíduo arguido e indiciado por vários crimes, é tacitamente cúmplice das alegadas irregularidades. Um povo que, maioritariamente e de forma soberana, outorga o seu programa nestas peculiares circunstâncias, jamais poderá se queixar senão, lamentar-se frente ao espelho em soluçado choro. Algo harmónico num concelho tribal do Congo, mas em dessintonia numa comunidade esclarecida.

Tal é a manigância do apego ao poder, e à regalia derivada da impunidade, que nem no combate interno partidário, houve humildade democrática, para com a oponente candidatura de Manuel António Correia. A trincheira foi logo escavada junto daqueles que ousaram mostrar-lhe público apoio. Dirigentes foram coagidos publicamente a apresentarem a sua demissão, e outros foram alvo de cobardes e vis represálias permitidas pela posse temporária da chave da latrina. Aquela democracia interna verteu e fedeu a céu aberto como um tecido gangrenado. Afinal, onde acaba o partido e começa a governação pública, ou isto, são tudo assoalhadas do mesmo “Bataclan”?

Foi despejado o anátema sobre os nomeados, enquanto meros peões e acéfalos executantes dos facciosos caprichos de poder de quem os nomeia, em vez de quadros competentes e idóneos da gestão pública. Sim, porque a “ultraconfiança”, pressupõe, pelos vistos, uma trela ao pescoço.

Porque é que a defesa da Região e do seu povo é na ótica de quem receia perder o poder, incompatível com eleições e debate interno, depois de tudo o que sucedeu?

Que medos escondem, desde os seus pindéricos altares de barro a suar nervosismo e insegurança?

Será que até 26 de maio, irão fazer 250 mil telefonemas para “persuadir” o voto, em troca de facilidades nas tutelas sectoriais? Convém começar a ligar ainda hoje, pois são mais os eleitores do que os militantes!

E quem quererá “casar com a carochinha” recauchutada, após 26 de maio, e concretizar o chorudo dote do PRR? Que partidos serão seduzidos pelo renovado canto da sereia? Ou, dito por outras palavras, quem mostrará disponibilidade e a troco de quê, para ser muleta duma maioria que se encurta desde 2019, e cujo epílogo, poderá guardar mais suculentos capítulos? Não respondam. São questões retóricas. Viva a Liberdade!