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Israel rejeitou mais de metade da ajuda humanitária para norte de Gaza em Março

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Foto  EPA

As autoridades israelitas rejeitaram mais de metade das missões de ajuda humanitária planeadas para o norte de Gaza durante as primeiras duas semanas de março, denunciaram hoje as Nações Unidas (ONU).

Num 'briefing' à imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque, Farhan Haq, vice-porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, apresentou detalhes sobre a situação no terreno em Gaza com base nos relatos do Escritório de Coordenação dos Assuntos Humanitários da organização (OCHA), que continua a registar restrições de acesso ao enclave.

"As restrições de acesso continuam a impedir a entrega atempada de ajuda que salva vidas, particularmente a centenas de milhares de pessoas no norte de Gaza", disse.

"Durante as primeiras duas semanas de março, menos de metade das missões de ajuda humanitária ao norte de Gaza planeadas foram facilitadas pelas autoridades israelitas, ou seja 11 de 24 missões. O resto foi negado ou adiado", explicou Haq.

O envio de ajuda para o norte de Gaza - a região mais afetada pelos ataques de Israel - exige aprovações diárias por parte das autoridades israelitas, com a entrada dos camiões carregados de ajuda vital a ser frequentemente rejeitada, mesmo após longos períodos de espera nos postos de controlo, indicou o porta-voz.

Além dos entraves à entrada, há também o risco de a ajuda transportada pelos camiões ser levada por pessoas desesperadas e famintas ao longo das rotas.

O OCHA tem sublinhado repetidamente a necessidade de os militares israelitas garantirem um acesso seguro, sustentado e sem entraves a Gaza e que abram todos os pontos de entrada possíveis.

"A única forma de prestar ajuda em grande escala -- e na escala necessária para evitar a fome iminente -- é por estrada", defendeu Farhan Haq.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) estima que uma resposta simples às necessidades alimentares básicas exigirá que pelo menos 300 camiões entrem em Gaza todos os dias e distribuam alimentos, especialmente no norte.

Entretanto, com as taxas de desnutrição a disparar no norte de Gaza, a Organização Mundial da Saúde (OMS) está a apoiar a criação de um centro de estabilização nutricional no hospital Kamal Adwan.

Em Rafah, a OMS já está a apoiar um centro para tratar crianças com complicações médicas devido à desnutrição aguda grave.

Está também a ajudar a criar um segundo centro em Rafah, no hospital de campanha da organização International Medical Corps.

Na segunda-feira, o subsecretário-geral para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, disse que, com a fome iminente, a comunidade internacional deve "inundar Gaza com alimentos e outra ajuda vital".

Numa publicação nas redes sociais, Griffiths criticou ainda a comunidade internacional por não ter conseguido impedir uma situação em que mais de um milhão de pessoas estão em risco, privadas do acesso à ajuda vital.

O subsecretário-geral frisou "que não há tempo a perder" e renovou o seu apelo às autoridades israelitas para que permitam o acesso completo e irrestrito de bens humanitários a Gaza.

Griffiths afirmou ainda que, "uma vez declarada a fome, será tarde demais -- mas com ação e boa vontade, ela pode ser evitada".

A guerra em curso entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano em solo israelita, em 07 de outubro, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.

Em retaliação, Israel tem bombardeado a Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local liderado pelo Hamas, já foram mortas mais de 31 mil pessoas, maioritariamente civis.

A ofensiva israelita também tem destruído a maioria das infraestruturas de Gaza e perto de dois milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas.