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Estruturas dos bombeiros demarcam-se de manifestação inorgânica

Cerca de 500 bombeiros sapadores de todo o país concentraram-se na terça-feira em frente à Assembleia da República. Foto JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
Cerca de 500 bombeiros sapadores de todo o país concentraram-se na terça-feira em frente à Assembleia da República. Foto JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

As principais estruturas associativas dos bombeiros demarcaram-se hoje dos promotores da manifestação realizada no sábado junto ao Ministério da Administração Interna, para exigir uma carreira para os membros das corporações voluntárias.

"Não condenamos, obviamente, o protesto que foi feito", mas este "não é o tempo" de fazer este tipo de ações e "não vai fazer diferença na negociação ao deixar de fora as entidades que obviamente representam os bombeiros", disse à Lusa o presidente da Associação Portuguesa de Bombeiros Voluntários, José Jordão Marques.

Cerca de duas centenas de bombeiros concentraram-se no sábado a pedir "vontade política" para iniciar negociações que permitam regulamentar a sua situação laboral, num primeiro protesto convocado pelo movimento 'Operação Carreira'.

Nesta situação estão cerca de dez mil bombeiros que prestam serviço profissional nas corporações geridas por associações humanitárias de voluntários espalhadas por todo o país.

"Nenhum governo vai decidir nada sem negociar com a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), que representa as entidades patronais, com a Associação Nacional de Bombeiros Profissionais e com os sindicatos", resumiu o dirigente, recordando que "essas entidades ficaram fora dos protestos ou, pelo menos, não foram convidadas para fazer parte".

Opinião semelhante tem Sérgio Carvalho, do Sindicato Nacional de Bombeiros Profissionais, que subscreve as reivindicações, mas não o modo como a manifestação foi organizada.

"Relativamente a manifestações e movimentos inorgânicos, o que eu posso dizer é que isso é à margem dos sindicatos, não sei como é que os mesmos são estruturados, qual é o seu objetivo", disse Sérgio Carvalho, que criticou o facto de este protesto envolver comandantes de corporações que não assinaram acordos coletivos de trabalho.

"Não podemos pôr os bombeiros a fazer uma luta que pode não ser a deles", disse o dirigente sindical, que defendeu a urgência de regulamentar o setor.

"Temos que definir regras claras: o que é necessário para ser bombeiro, que tipo de formação tem que se ter, como é organizada toda a sua carreira, que índices salariais são aplicados, que vínculo laboral se deve ter e que vencimentos se devem ter por posto ou categoria", acrescentou, considerando que a situação laboral "não pode ficar à vontade dos comandantes ou das direções, que gostam mais de um profissional ou de outro".

Por outro lado, "muita da falta de bombeiros deve-se ao excesso de carga horária que é praticado nas associações humanitárias, porque os bombeiros são obrigados a trabalhar como voluntários, muitas vezes por semana, em vários piquetes de 12 horas ou de 24 horas gratuitamente, além do seu horário de trabalho semanal de 40 horas".

"Isso afasta por completo os bombeiros das associações, porque as associações, como não têm dinheiro para pagar, utilizam este trabalho gratuito para colmatar a falta de trabalhadores", disse o dirigente sindical.

Também o presidente da LBP, António Nunes, se demarcou do protesto, por considerar que "só as instituições devidamente constituídas e que tenham reconhecimento por parte das várias entidades nos vários fóruns é que podem resolver o problema".

"Sabemos como é que os movimentos inorgânicos começam, mas não sabemos como é que acabam e não sabemos como é que depois são muitas das vezes infiltrados por lógicas que não correspondem àquilo que é a democracia", afirmou.