Crise Política na Madeira (2)

A atual crise política na Madeira - desencadeada pela polémica operação judicial de 24 de Janeiro - entrou, agora, numa segunda fase.

A decisão do Representante da República, no sentido de manter o atual Governo Regional (GR) em funções de gestão, deixa antever - salvo alguma surpresa de última hora - que o Presidente da República (PR) vai mesmo dissolver a Assembleia Legislativa Regional e convocar eleições.

Com a decisão de Irineu Barreto tomada, os partidos já podem definir estratégias para os

combates que se aproximam.

A oposição usou, ao máximo, a operação judicial de 24 de Janeiro, como arma de arremesso político contra o PSD-M. No entanto, a decisão do juiz Jorge Bernardes de Melo, em libertar Pedro Calado, Avelino Faria e Custódio Correia - por falta de “indícios” de crime - , acabou por esvaziar o argumento de que há corrupção no GR, nomeadamente através das “ligações perigosas” com grandes grupos económicos.

Quem tirou partido da decisão do juiz foi Miguel Albuquerque (MA), que encontrou aí uma tábua de salvação para continuar a lutar pela sua sobrevivência política - mesmo na incómoda condição de arguido. A manobra de fuga para a frente é tão audaz, quanto perigosa.

O “quase de certeza que serei candidato” vai, certamente, mobilizar uma parte do partido.

No entanto, o argumentário da “presunção da inocência” e do “político imaculado” pode

não ser suficiente para convencer todos os militantes do partido.

Embora, em teoria, MA esteja no pleno uso dos seus direitos políticos, na prática, há

receio de que o desenrolar do processo, em que é arguido, possa comprometer o futuro do

PSD-M. Há quem não queira expor o partido a esse risco.

Embora tenha cumprido as formalidades estatutárias, MA sabe que os adversários

internos não têm tempo para contar espingardas - muito menos para criar uma vaga de fundo vencedora. Neste contexto, MA fica com o caminho livre para legitimar - sem concorrência - a sua liderança.

Mesmo que, no imediato, a estratégia de MA resulte, pode, a prazo, provocar danos difíceis de reparar - quer no interior do PSD-M, quer na relação com os seus parceiros políticos (CDS e PAN).

Apesar de todos os riscos, não se pode afastar o cenário de MA conseguir passar, incólume, entre os pingos da chuva, e até conseguir ganhar as eventuais eleições regionais do próximo mês de Maio.

Para conseguir formar governo, MA poderá fazer alianças “contra natura” - que são impensáveis neste momento. A concretizar-se este cenário de fição política, a imagem de um gato, com as suas sete vidas, aplicar-se-ia, com toda a propriedade, a MA.

É imprevisível a forma como o PSD-M vai, nas próximas semanas, digerir a audácia

política de MA.

Os resultados eleitorais do próximo 10 de Março já vão dar uma ideia da forma como ficou o panorama político regional, depois do terramoto de 24 de Janeiro, e se a estratégia de MA está mesmo a resultar. Por último, é preciso não esquecer que ainda temos de esperar pela decisão do PR, a partir de 24 de Março.

Manuel Pereira