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“Déjà-vu”

A “Passagem de Ano” é apenas um segmento, um sucedâneo sopro encadeado a tantos outros, num contínuo imparável.

A nossa efémera existência assinala-o, sem conseguir deter o virar de página.

Em cada novo ano impregnado de desejos, há quadros que se repetem num tédio martirizante. Há dias, a RTP-Madeira num daqueles seus arrebates plenos de criatividade informativa, esteve no Porto Santo perguntar a um punhado de residentes daquela dupla-insularidade, “se o cavalo-branco de Napoleão era mesmo branco”, ou seja, o que é que os locais pensavam, sobre a tradicional interrupção do ferry nas próximas cinco semanas, para a habitual manutenção da embarcação. (Incrivelmente) todos se lamentavam, e o cavalo branco do estadista nascido na Córsega, era mesmo branco! E tal como Napoleão que acabou desterrado na remota Ilha de Santa Helena, os porto-santenses e a economia local, repetirão a provação anual a que ficam sempre sujeitos, afogados nas suas surdinas lamentações renovadas a cada ano que passa, até porque, já têm as “benesses” aéreas cedida pela filantropia do concessionário, a que alguns insulares, mal-agradecidos, chegaram a abusar da graça concedida. Para o ano basta revisitar a RTP-Play. Veremos a mesma narrativa, bem como a recriação de Colombo a desembarcar na praia dourada lá para setembro.

Até pode soar macabro, mas votos deste novo ano, são também idas às urnas, para votar e sepultar a pífia estabilidade. Só os nossos congéneres açorianos terão mais eleições que o restante país. Os madeirenses e restantes continentais irão ter duas eleições. Neste ano de “jackpot” democrático, se Marcelo Rebelo de Sousa não conseguir suster a precária credibilidade com que se cobriu no Palácio de Belém, ainda poderíamos fazer o pleno, e eleger um novo Chefe de Estado, em abono da total higienização republicana, como quem lava profundamente um chão imundo de uma festança de vários dias. Contudo, o entretenimento popular sempre reclamou um “Bôbo na Corte”, pelo que, é mais provável que mantenhamos o Sr. “pau-de-selfie”, se a memória não mais o trair. Além do mais, a necessidade da terapia afetiva que ele tanto proporciona aos portugueses em “burnout” e com tanta falta de auto-estima, sai sempre mais barata do que qualquer medicamento milionário, encharcado em água-benta, à adoentada saúde pública.

Há efervescência em torno dos futuros seis representantes do Círculo da Madeira para São Bento. Os atuais, divididos ex aequo entre o PSD e o PS, dificilmente terão esta correlação. Até porque sendo eleições antecipadas, após um período eleitoral regional relativamente recente, há vários amargos e défices de credibilidade daí resultantes, ainda a serem processados por parte de ambos os partidos perante os seus eleitorados.

Como se vê, ainda que o tempo seja em muito uma revisitação, a realidade pode ser dinâmica e animada. O calendário é só uma âncora num espaço de encurtadas memórias. Estamos condenados a um 2024 mesmo dos bons!