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Após mais de um ano de guerra, ucranianos pedem investimento em vez de donativos

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Uma delegação composta por 28 ucranianos e oito 'startups' estão na primeira edição da Web Summit no Rio de Janeiro para captar novos investimentos, consciencializar o público sobre a guerra e mostrar que "não são vítimas", mas "sobreviventes".

"A indústria de IT [tecnologia de informação] tornou-se a segunda indústria da economia ucraniana no país e que trouxe muito dinheiro para o país. Por isso é super importante pedir ao resto do mundo que invista nas empresas ucranianas", contou à Lusa Diana Rakus, responsável da direção de Atração de Investimento do Ministério da Transformação Digital da Ucrânia.

As oito 'startups' presentes estão em ramos tão distintos como a solução para deteção de anomalias em produção, sistema de verificação automática e reconhecimento facial em tempo real, dispositivo que reduz o consumo de combustível e as emissões de CO2, solução ecológica para combater mosquitos e proteger contra picadas ao ar livre, entre outros.

A indústria digital na Ucrânia já era uma das mais fortes do país, mas com a guerra, com o êxodo de muitos ucranianos, esta indústria teve de se reinventar e fortificar, estando agora apenas atrás da agricultura como a maior indústria da economia ucraniana.

Num 'stand' situado a poucos metros da Startup Portugal, Diana Rakus explicou que a decisão de estar presente na primeira edição da Web Summit Rio foi feita pelo facto de terem tido uma "grande experiencia" durante a edição de 2022 em Lisboa.

"O Brasil é um mercado gigante e novo e para nós é super importante mostrar ao mundo que a indústria de tecnologia de informação ucraniana está a funcionar e está a demonstrar resultados", disse a responsável, frisando que as empresas ucranianas estão prontas para novos contratos.

"Quando a guerra começou estávamos a pedir às pessoas para fazerem donativos", recordou. "Agora, passado um ano, estamos a pedir às pessoas que invistam nas empresas ucranianas para manterem as suas atividades e alimentarem as suas famílias", sublinhou.

Olesya Malevanaya, dirigente da Ukrainian hub, uma associação sem fins lucrativos, criada para apoiar empreendedores ucranianos e que está atualmente sediada em Portugal, devido à guerra na Ucrânia, explicou à Lusa que o objetivo passa por "ajudar os empreendedores em casa e fora, principalmente no estrangeiro porque agora as empresas Ucrânia estão a tentar descobrir novos mercados, novas oportunidades e novos investimentos".

"Os ucranianos refugiados e os ucranianos empreendedores não são vítimas, são sobreviventes e é por isso que temos de partilhar a narrativa ao mundo que nós somos fortes, que continuamos a trabalhar e a criar novos produtos", frisou.

Além dos investimentos e da consciencialização dos brasileiros sobre a guerra, Olesya Malevanaya fala sobre a importância da inovação nas 'startups' ucranianas que podem apoiar os combatentes ucranianos. 

"Porque nós precisamos de nos defender e de criar novas tecnologias para os nossos defensores e para o nosso exército", afirmou.

Um dos casos de sucesso ucraniano é a Kycaid, uma pequena empresa que nasceu em 2018, mas "que rapidamente cresceu e que se tornou uma empresa global", explicou a sua responsável, Alexandra.

Esta empresa de sistema de verificação automática e reconhecimento facial em tempo real consegue, entre outras valências, "identificar a pessoa, seja um invasor russo", sejam os "ucranianos que estão agora nos territórios ocupados".

A responsável pela empresa, com cerca de 50 colaboradores, a maioria ucranianos, resumiu que o objetivo no Brasil passa por "oportunidade para novas parcerias" e, espera, "investimentos".

O evento tecnológico, que nasceu em 2010 na Irlanda, passou a realizar-se na zona do Parque das Nações, em Lisboa, em 2016, e vai manter-se na capital portuguesa até 2028. A empresa anunciou recentemente a expansão para o Médio Oriente, com a Web Summit Qatar prevista para o início de 2024.

Portugal está representado na Web Summit Rio por 25 'startups', ligadas a áreas como 'software', educação ou inteligência artificial.

BlockBee, Blue Insight Technologies, Deeploy.me, Dizconto, Enline, Frontfiles, Go Beesiness, Hoopers, IDE Social Hub, Infinite Foundry, Itercare, Knok Healthcare, Leadzai, Mentorise, Modatta e Move, assim como a My Data Manager, MyCareforce, ndBIM, Neroes, Sensei, SheerME, Swood, Vawlt Technologies e Wallstreeters são os representantes portugueses.

A cofundadora do movimento Black Lives Matter, Ay? Tometi, a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, responsáveis máximos de bancos e empresas brasileiras, a presidente-executiva da plataforma Onlyfans, Amrapali Gan, e o primeiro-ministro de Cabo Verde, José Ulisses Correia e Silva, juntam-se aos mais de 300 oradores, às cerca de 900 'startups', investidores e jornalistas, de mais de 100 países, numa cimeira na qual serão discutidos temas como tecnologia, sociedade, inteligência artificial, alterações climáticas, entre outros.

Entre os vários oradores estão ainda o secretário de Estado da Internacionalização português, Bernardo Ivo Cruz, vários atores e apresentadores brasileiros, a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sónia Guajajara, o ex-jogador da seleção portuguesa de futebol Deco e a apresentadora portuguesa Cristina Ferreira.