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A Tap geme, a Easyjet grita e a Ryanair suspira

Um filme pornográfico, para lá de erótico, muito para lá de comédia romântica

Muitos de nós ainda nos lembramos da novela que em 2018 colocou a pornografia entre o presidente do Governo Regional da Madeira e o CEO da TAP, mais um de má memória, um tal de Antonoaldo. Referindo-se aos preços para viajar para a Madeira no Natal desse ano, Miguel Albuquerque classificou os valores praticados de “pornográficos”. Agora, para continuar a conversa no mesmo nível, damos por nós metidos a meio de um “ménage a trois”.

Esta semana entrei num site de viagens e achei que estava a entrar num canal porno. 600 euros por uma hora e meia. Um atentado ao pudor. Repesquei os piores termos do meu calão e mandei uns impropérios para o ar. Só o computador é que ouviu, graças a Deus. E descobri, infelizmente, que a pornografia mais cara é a nacional. Porque a internacional tem preços mais acessíveis. Dei por mim a encontrar uma vinda de Lisboa para a Madeira amanhã e regresso no próximo ao mesmo aeroporto por 256 euros. Ah, mas se para vir tem de apanhar um avião da Ryanair em voo direto, já para regressar a casa, ali a uma hora e meia de distância de voo, tem um bónus. Ir para Paris e dormir no Aeroporto. No site, um dos mais procurados para as buscas de viagens, há uma opção cem euros mais cara, a 354 euros, na Easyjet, com vinda direta e regresso por Milão e Madrid, tendo como destino final Lisboa. Tudo para a Santa Páscoa.

Percebi que a Easyjet, a TAP e a Ryanair entram agora todas no mesmo filme. Se, por um lado, em 2018 esta última ainda tinha um papel de “voyeur” neste filme de doidos, agora é protagonista. Os preços são pornográficos, sim. Um filme pornográfico, para lá de erótico, muito para lá de comédia romântica. Fazem umas cenas dignas do kamasutra, que por mais ginástica que se faça, não há quem as consiga explicar.

Todos os anos pagamos. E calamos. Continuo a minha procura. Pelo mesmo preço médio para a Madeira esta semana, os 600 euros, e também com duas escalas, em Madrid e Istambul, chego à capital do Dubai e volto. Sim, nesta mesma semana. E a busca foi feita no mesmo site. Sem truques e sem muita ginástica. Ao contrário do kamasutra. Ano após ano vemos o mesmo filme e resignamo-nos.

Culpamos os deputados e os governantes de todas as cores e não nos mexemos para nada. Prostituímo-nos aos operadores turísticos e abrimos-lhe o que temos e o que não temos, para podermos encher os hotéis, mas continuamos com o comando na mão a ver os mesmos filmes. A Tap geme, a Easyjet grita e a Ryanair suspira. Fazem a orgia e nós assistimos, tipo voyeurs de vão de escada, calados perante o sadomasoquismo a que nos sujeitam.