Proclamar, que a eutanásia não é de esquerda nem de direita faz-nos recordar, quem afirma que não há esquerda nem direita (!), e quem o diz situa-se à destra e à direita desta, não ingenuamente. A Lei da morte medicamente assistida não pode ser inconstitucional e a eutanásia já tem legislação que protege quem agoniza e quem deseja parar com um sofrimento irreversível! Os juízes do Tribunal Constitucional, que não são o paradigma de abertura de mentes, também fizeram eutanásia à gramática, para chumbar o diploma, depois do Parlamento o depurar e ter «amaciado» a Lei. O TC agiu muito mal em se ter pronunciado só no último dia. A igreja católica aplaude a decisão, com a ajuda, outra vez do presidente da República, que voltou a misturar a sua convicção católica com a sua figura institucional... partidos da direitíssima e extrema-direita rejubilaram e clamam por um referendo. A vida própria do domínio intrínseco e a auto-determinação pessoal jamais pode ser objecto de violência referendária! Toda esta gente, que não quer obviar o sofrimento agónico, amplamente escrutinado, caso tivessem tido um familiar próximo a morrer sem remissão, como minha mãe, que me disse: ''Quero terminar!'', porventura, seriam mais compreensivos por quem só lhes resta pôr fim ao batimento do coração, porque já não vivem. Pela medicina morreram!...

Vítor Colaço Santos