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1.901 mortos em 2022 a tentar chegar a Espanha desde África

Foto EPA
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Pelo menos 1.901 migrantes morreram a tentar alcançar a costa sul de Espanha a partir de África no ano passado, revelou ontem a organização não-governamental (ONG) Associação Pró Direitos Humanos da Andaluzia.

A ONG disse num comunicado que este é o segundo valor mais elevado que já confirmou num ano, só superado pelos 2.126 migrantes mortos em 2021.

No entanto, em 2022 diminuiu em 23 por cento o número de migrantes que entraram em território espanhol (34.537), pelo que a proporção de pessoas que morreram é maior (mais 11%), sublinhou a organização.

A organização confirmou pelo menos 1.901 mortos em 2022, mas afirmou que só se recuperaram 707 corpos e que os restantes migrantes ficaram sepultados no mar.

Para a ONG, estes números revelam um aumento da "perigosidade das rotas" migratórias, para o que contribuíram os acordos de Espanha com Marrocos.

Esses acordos aumentaram os controlos em torno do estreito de Gibraltar (no Mediterrâneo) e nas fronteiras terrestres das cidades espanholas de Ceuta e Melilla, partilhadas com Marrocos, fazendo desviar as rotas de migração para trajetos mais longos e perigosos.

Essas novas rotas, mais perigosas, visam alcançar as costas espanholas noutras zonas do Mediterrâneo, a partir da Argélia, e no arquipélago atlântico das Canárias.

Os dados da ONG Associação Pró Direitos Humanos da Andaluzia confirmam que a rota das Canárias foi a mais usada por migrantes no ano passado, 18.000, representando 56% do total de pessoas que tentaram entrar em Espanha pelas fronteiras sul, a partir de África.

A rota das Canárias foi também aquela em que morreram mais pessoas a tentar alcançar Espanha: 1.330 vítimas do total de 1.901 registadas pela ONG no ano passado.

Segundo os mesmos dados, à costa da Andaluzia, a mais próxima de Marrocos, no Mediterrâneo, chegaram 7.300 migrantes. Ao arquipélago das Baleares e à região de Múrcia e Alicante, também no Mediterrâneo, mas já mais afastada da costa marroquina, chegaram 6.356 pessoas, sendo esta a única zona da fronteira sul espanhola em que houve um aumento de chegadas de migrantes.

A ONG explica este aumento nas Baleares e na designada costa do Levante com a "atitude mais flexível" da Argélia em 2022 em relação a embarcações com migrantes que saíam das suas costas rumo a Espanha, no contexto dos entendimentos de Madrid com Rabat, que incluíram uma mudança da posição espanhola em relação ao Saara Ocidental, contrária à que defende Argel.

A Associação Pró Direitos Humanos da Andaluzia sublinhou ontem, no comunicado que divulgou, que a mortalidade nas rotas migratórias da fronteira sul de Espanha ficou marcada no ano passado pelo "massacre" de 24 de junho em Melilla, quando pelo menos 23 pessoas, segundo as autoridades de Marrocos, morreram a tentar saltar a fronteira.

Para a ONG, morreram nesse dia mais pessoas, cerca de 70, num balanço similar ao que têm feito outras organizações de defesa dos Direitos Humanos e de jornalistas.

A Associação Pró Direitos Humanos da Andaluzia considerou "muito preocupante" a "externalização" da gestão da fronteira sul por parte de Espanha, com os acordos que fez com Marrocos "para permitir a violação dos Direitos Humanos".

Outra ONG espanhola, Caminhando Fronteiras, revelou também ontem que 464 pessoas morreram ou desapareceram no ano passado na rota de migração entre a Argélia e as costas de Espanha, numa média de quase nove vítimas por semana.

Esta ONG sublinhou que "a rota argelina é a segunda mais mortífera do Estado espanhol", a seguir à das Canárias, "mas a mais invisibilizada" e criticou, sobretudo, o que se passa nas Baleares, em que "raramente se ativam os meios necessários" para resgastes e salvamentos quando há alertas.