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Extrema-direita espanhola avança com moção de censura liderada por antigo comunista

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Foto RR

O partido espanhol de extrema-direita VOX vai apresentar uma moção de censura ao Governo de Pedro Sánchez encabeçada por um histórico comunista de Espanha, com um percurso de oposição à ditadura, anunciou hoje a formação política.

A legislação espanhola prevê que as moções de censura ao governo apresentadas no parlamento sejam encabeçadas pelo nome da pessoa que automaticamente liderará o Executivo caso sejam aprovadas.

O VOX já havia anunciado em novembro passado uma moção de censura que, porém, não seria encabeçada pelo líder do partido, Santiago Abascal, mas por uma personalidade independente, tendo hoje confirmado o nome do economista, historiador, escritor e antigo membro do Partido Comunista de Espanha Ramón Tamames, de 89 anos.

VOX e Tamames já tinham confirmado nas últimas semanas negociações e conversas com o objetivo de o antigo comunista vir a encabeçar a moção de censura do Governo da extrema-direita.

O partido disse procurar um nome independente, neutral e de consenso, que mobilizasse uma maioria de deputados que permitisse derrubar o governo do socialista Pedro Sánchez, acrescentando que objetivo seria convocar de imediato eleições legislativas.

Mas a moção do VOX tem já rejeição assegurada num parlamento em que uma maioria de esquerda e outras formações ligadas ao nacionalismo basco e catalão têm apoiado o Governo de coligação do partido socialista e da plataforma de extrema-esquerda Unidas Podemos.

Por outro lado, para já, nem mesmo os partidos de direita manifestaram a intenção de votar favoravelmente a moção de censura anunciada pelo VOX.

Na história da democracia parlamentar espanhola, instituída formalmente em 1978 com a aprovação da atual Constituição, só uma vez foi aprovada uma moção de censura que fez cair um Governo, levando ao poder um novo primeiro-ministro sem eleições.

Aconteceu em 2018, quando precisamente Pedro Sánchez, atual primeiro-ministro socialista, viu aprovada a moção de censura que apresentou ao Governo de Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP, direita).

Num comunicado, o líder do VOX, Santiago Abascal, defendeu hoje a necessidade de "devolver a palavra aos espanhóis" e afirmou que o partido cumpre com "o compromisso de apresentar um candidato independente".

Ramón Tamames é "um espanhol independente, de brilhante trajetória intelectual, símbolo da reconciliação nacional", que representa milhões de espanhóis que, "mais além dos partidos, exigem uma demissão imediata de um Governo contrário aos interesses da nação".

Numa entrevista recente à televisão pública espanhola (TVE), Tamames afirmou discordar de muitas propostas e ideias do VOX, mas partilhar das preocupações do partido em relação à defesa da Constituição espanhola, que considera ameaçada por decisões do atual Governo como a abolição do Código Penal do crime de sedição, que condenou os independentistas catalães que protagonizaram uma tentativa de autodeterminação em 2017.

Para Tamames, o VOX é "um partido constitucional", que respeita a unidade de Espanha, atacada pelo Governo de Sánchez.

Ramón Tamames filiou-se no Partido Comunista de Espanha em 1956, pelo qual foi eleito deputado para uma assembleia constituinte em 1977, depois da morte do ditador Francisco Franco.

Abandonou o partido comunista em 1981, quando fundou a Federação Progressista, que mais tarde integrou a coligação Esquerda Unida.

Em 1988, filiou-se no moderado e centrista Centro Democrático Social, do primeiro-ministro Adolfo Suárez.

Além desta trajetória política, Ramón Tamames é economista, professor e catedrático, com uma carreira académica de prestígio reconhecido em Espanha.