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Retorno

Em ambiente que parece deixar transparecer alguma euforia em função de resultados alcançados no último ano, continuo a olhar com preocupação para o nosso futuro colectivo.

Entendo que é nestes momentos que temos de precaver-nos para novos ciclos de dificuldade que fatalmente se seguirão e de tratar de fazer prolongar esse bom momento, só se conseguindo isso com políticas de aposta no produto turístico, naquilo que vendemos.

O critério de investimento, sobretudo o público mas não só, deve portanto ter este foco, este norte, sobretudo quando os meios podem não ser os suficientes. Claro que me permito estranhar não haver um euro para produto turístico nas verbas do PRR mas a decisão está tomada, não há nada a fazer.

Neste sentido – o do critério no investimento – achei que estaríamos a inaugurar um novo ciclo com toda a discussão a propósito das Jornadas Mundiais da Juventude. Debalde. O palco, caro que dói, só é assunto porque se trata de um evento da igreja e continua a não existir nenhum racional económico, nenhuma análise de retorno, financeiro, económico ou social.

O exemplo regional, que é tão somente isso até porque não me dão caracteres suficientes para mais, que fez cair por terra as minhas esperanças noutro tipo de escrutínio é o do campo de golfe da Ponta do Pargo.

Sem achismos nem recorrendo a economistas da estirpe do Mestre Bambo, qual o retorno efectivo desse investimento? Agradeço que não me respondam que será através da componente imobiliária associada porque é pior a emenda do que o soneto: - vamos estragar, com cimento, uma área que quem de direito devia querer preservar assim mesmo, verde e cheia de riqueza natural.

Um campo de golfe, para os puristas, é das piores intervenções na Natureza que se podem efectuar. Porque deturpa as condições naturais dos espaços e porque é enorme sorvedor de recursos, nomeadamente de água, o petróleo do nosso século.

Falar sobre a construção desta infraestrutura é esquecer o investimento absolutamente louco e injustificado de acessos para lá chegar. É fingir que, ao contrário de outras zonas até muito próximas que estão a ser descobertas por locais e estrangeiros para terem uma segunda habitação, naquele local o clima é adequado e só por azar não foi até agora procurado. É voltar a não pensar que, tal como as marinas, as piscinas e uma série de outras “inas”, precisa de manutenção ao longo do tempo, que alguém terá de pagar.

Custa uns milhões, que se ditos naquele tom e com aquele enquadramento parece pouco e pronto! Quanto custou já; não interessa. Medir o impacto negativo da componente imobiliária associada é coisa de pacóvios com mentes curtas. Saber qual o retorno que vai gerar, é de somenos e nem sequer uma análise ao tal custo de manutenção se vi discutido e muito menos publicado.

Campo de golfe e respectivos acessos. Teleféricos no Rabaçal e no Curral. Alcatrão na estrada das Ginjas. Túneis a esventrar cidades. Alargamento do molhe. É isto que temos, que é bem mais popular do que, sei lá, por exemplo investir em sustentabilidade de um destino turístico que diz que o seu principal activo é a Natureza…