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Analistas dizem que China quer influenciar ordem internacional e não alterá-la

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Dois especialistas na política chinesa defenderam hoje que a China segue uma estratégia de "realismo defensivo" e que não deseja alterar na ordem internacional, mas antes ganhar protagonismo a partir do seu interior.

O general Carlos Branco, antigo Diretor da Divisão de Cooperação e Segurança Regional do Estado-Maior Internacional da NATO e investigador, lembrou as recentes palavras do Presidente chinês, Xi Jinping, no fórum de Davos, assumindo que "continuava comprometido com a segurança comum abrangente e sustentável".

"A China está comprometida com a soberania de todos os países. Isto é realismo defensivo, que contrasta com a posição chinesa da era da Guerra Fria, de realismo ofensivo, quando teve presenças de força em África e na Ásia", lembrou Carlos Branco.

Em idêntico sentido, Júlio Pereira, ex-subdiretor-geral dos Serviços de Informação e Segurança (SIS) e secretário-geral do SIRP, lembrou que a China não quer ter uma vocação intervencionista, o que pode sossegar o Ocidente relativamente à posição de Pequim perante uma eventual aliança com Moscovo para a invasão da Ucrânia.

"Um líder da Malásia dizia, há pouco tempo, que o seu país tinha relações com a China há cerca de dois mil anos e nunca tinha tido problemas. Há 500 anos chegou lá um país ocidental e tiveram logo problemas. Esse país era Portugal", recordou Júlio Pereira na sua intervenção num painel sobre a Iniciativa de Segurança Global para a Paz.

O painel integrava a IV conferência internacional de cooperação Portugal-China, que hoje se realizou no Porto, assinalando os 10 anos do lançamento da Nova Rota da Seda e a parceria estratégica Europa-China 20, colocando como objetivo contribuir para o "abrandamento da tensão entre a Europa e a China".

Para o general Carlos Branco, o Presidente Xi Jinping definiu uma estratégia de expansão global onde quis deixar muito claro que "o país está comprometido em colaborar na resolução de disputas regionais e em solucionar desafios globais", o que ajuda a compreender o seu posicionamento perante o conflito na Ucrânia.

"A China apresentou um plano de paz para a Ucrânia em 12 pontos, que ilustra muito bem o seu respeito pela estratégia de segurança global, tirando proveito do seu protagonismo", argumentou Branco.

O general lembrou que a China já teve um papel importante na mediação entre a Arábia Saudita e o Irão e procura agora um deslocamento das suas atenções geopolíticas para o sul, sobretudo na América Latina e em África -- um interesse perfeitamente ajustado à sua estratégia da Nova Rota da Seda, lembrada nesta conferência no Porto.

Júlio Pereira aproveitou para recordar uma sua proposta, feita junto do Governo chinês, para aproveitar a secular proximidade entre Portugal e a China, de criação de um centro de Sinologia em Macau.

"Quando pouca gente na Europa ainda se recordava da China, nós nada fizemos", lembrou este especialista, dizendo que esta pode ser uma "oportunidade única" para Portugal não desperdiçar a sua influência na Ásia.

A conferência foi uma iniciativa da Câmara de Cooperação e Desenvolvimento de Portugal-China (CCDPC), da União de Associações de Cooperação e Amizade Portugal-China e do Observatório da China, tendo como coanfitriões o Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-China, e realizou-se no auditório da Fundação Manuel António da Mota, no Porto.