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China – uma nova superpotência?

Finalizada a Guerra Fria (1947-1991), houve uma reconfiguração das relações de poder no sistema internacional, sendo os EUA a potência hegemónica vencedora. Este país impôs-se pelo poder naval inigualável e pela enorme influência cultural, consequência do desenvolvimento da indústria cinematográfica e da sua internacionalização.

Atualmente, temos um sistema multipolar onde países como o Japão, Índia, China, Brasil e a própria União Europeia têm um peso significativo na tomada de decisão em organizações e fóruns internacionais, dada a complexidade e dimensão dos desafios estabelecidos na agenda internacional tais como o combate às alterações climáticas e o crime organizado, que requerem soluções multilaterais.

Não obstante, a China, desde a sua entrada na Organização Mundial do Comércio em 2001, experimentou um forte crescimento económico, refletindo-se num aumento da sua classe média e no seu processo de industrialização. Por outro lado, existem alguns indicadores como a capacidade militar, poder cultural, poder económico, poder naval, controlo das principais rotas marítimas mundiais, entre outros, que podemos considerar como elementos de poder e que dão claros indícios das pretensões da China de rivalizar e destronar os EUA da sua posição hegemónica no sistema internacional.

Uns dos elementos que joga ao favor do gigante asiático é a sua demografia, que militarmente se traduz num maior número de efetivos, comparativamente com outros exércitos do mundo. Igualmente, uns dos fatores para que uma nação seja poderosa é o seu poder naval, ou seja, o domínio dos mares. Neste sentido, no Mar da China Meridional, a China construiu ilhas artificiais, gerando mal-estar nos países vizinhos com disputas limítrofes (Vietname, Indonésia, Malásia, Brunei, Taiwan e Filipinas). Mas, o facto de construir estas ilhas permitiu-lhe ter o controlo dos recursos marinhos, expansão marítima e territorial e maior influência numa zona de vital importância geoestratégica para o comércio internacional. Ademais, não pode deixar de ser mencionado o projeto de internacionalizar o renminbi (moeda oficial da República Popular da China), e aumentar o seu uso nos mercados financeiros internacionais, visando enfraquecer o dólar. Relativamente ao comércio exterior, o principal destino das exportações chinesas é o mercado estadunidense, refletindo a grande interdependência que há entre as duas economias.

Por sua parte, os EUA têm identificado a China como umas das principais ameaças para a sua segurança nacional. Outro tema que gera impasse entre os dois países é o apoio dos EUA a Taiwan e as pretensões chinesas sobre esta ilha. Sem dúvida, a influência estadunidense no Mar da China Meridional e no Pacífico gera algum desconforto aos chineses, que consideram estas zonas como o seu espaço vital. Além disso, a rivalidade tem tido grande visibilidade na área comercial, especialmente durante a presidência de Donald Trump, com a guerra de tarifas às importações chinesas para estimular o comércio interno e as consequentes retaliações por parte da China.

Em suma, nos próximos anos, a China terá uma maior participação na arena internacional. O seu poder económico vê-se refletido nos apoios financeiros dados a África e América Latina, na sua liderança no comércio internacional e na criação de estruturas de governança paralelas às existentes no sistema internacional, com vista à criação de regras e regimes mais favoráveis aos seus interesses.