Consagrados

Neste ano de 2023, a dois meses da data certa, celebro as minhas bodas de diamante de consagração religiosa. São 75 anos de uma vida e de uma história na Ordem Hospitaleira de São João de Deus (O.H.). Um aniversário que ressoa no mais profundo do meu ser com tantos momentos de ação de graças, agradecimentos, homenagens e surpresas devidas a tantos Irmãos e comunidades que, desde a primeira hora, me têm ajudado nesta longa caminhada feita de muitos valores e motivações. Milhares de amigos cruzaram-se comigo nos caminhos da hospitalidade e cultura.

Agradeço ao Senhor que me chamou à vocação e à consagração total para construir o seu Reino em missões que me foram confiadas. Estou reconhecido aos meus Superiores (O.H.) que sempre acompanharam e promoveram os dons que recebi para o melhor apostolado ao serviço de Deus e da Igreja. Estou reconhecido também à minha família, aos meus pais em particular, pela compreensão, oração, carinho e respeito, com que encararam minha opção por uma vida totalmente dedicada aos ouros.

Estou eternamente grato ao P. João que, num dia de 1942, me convidou para a vida religiosa e me disse “se quiseres” vai ter comigo ao apeadeiro do Litém e o meu pai a repetir: “por mim pode ir e se não se der bem pode voltar”.

Este “se quiseres” calou bem fundo no meu coração e a ele fui respondendo numa longa vida de Irmão de São João de Deus: antes do postulantado, antes do noviciado e, de uma maneira mais decisiva, antes da profissão em 1948, antes de dizer sim ao aceitar o convite para me preparar para sacerdote em 1950, e depois em 1953 na profissão solene, e no diaconado e ordenação, e bodas de prata e de ouro de Irmão e de sacerdote, e agora. Em todas estas ocasiões, senti a presença dos superiores e, acima deles e de mim próprio, o próprio Deus a receber o meu sim.

Esta vivência das bodas de diamante serve, ainda, para continuar a agradecer e a louvar a Deus por tantas graças recebidas, pelos 93 anos de vida, por tantos benefícios e privilégios espirituais.

Mais do que uma simples data, estes 75 anos são uma oportunidade para continuar a fazer consagração e aprofundar a sinceridade do sim. Esta celebração significa, em síntese, continuar a dar testemunho da “vida nova” adquirida há muitos anos e da presença do Senhor no meio do seu povo através do carisma vocacional da Hospitalidade. Sinto que continuo a ser “chamado à obediência fiel de cada dia e às surpresas inéditas do Espírito. É a visão daquilo que importa abraçar para ter a alegria: Jesus”, como disse o Papa Francisco dirigindo-se aos consagrados.

Agradeço a todos os que aceitarem associar-se a mim nesta celebração diamantina de louvor e ação de graças que terá diversos momentos que estão a ser agendados, tendo a do dia 19 de março em Fátima um sentido especial.

Aires Gameiro