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(Des)orientação

A falta de rigor, a propensão para o populismo e demagogia, a relativização das dificuldades e dos problemas são um terrível defeito que afeta várias personalidades políticas, mas não deixa de ser ainda mais visível e preocupante na atitude permanente do atual presidente do governo regional.

Considero-me uma feminista, uma mulher independente, e tenho fobia aos laivos de misoginia e desrespeito pelas mulheres que se observa no dia a dia na nossa ilha, mas tenho também particular preocupação pela completa falta de empatia, desapego e alheamento por aqueles que sofrem dificuldades tremendas no seu dia a dia, que lutam por um emprego, que lutam por um salário, que lutam por dar melhores condições de vida à sua família e aos seus filhos. E refiro isto porque são muitos na Madeira. São demasiados madeirenses nessa situação, esquecidos pelo executivo regional.

Num mundo ideal, teríamos uma preocupação suplementar a nível governativo de criar sinergias, de procurar cooperação em particular com o governo da República, no sentido de potenciar medidas e soluções, de amplificar efeitos de financiamentos e investimentos, de modo a alterarmos um conjunto de situações estruturais que afetam a nossa vida coletiva arquipelágica. Mas não é assim…

Impera a guerra de argumentos políticos sem sentido, uma guerra artificial contra o inimigo externo, algures em Lisboa, numa dissonância de palavras e adjetivos que nunca nos levará a lado algum.

Continuamos a ser a região do país com a mais alta taxa de risco de pobreza e exclusão social, um em cada três madeirenses correm o risco de ser pobres, cerca de 80 mil pessoas! Temos o mais baixo poder de compra, e dos mais baixos rendimentos médios. No entanto, desvaloriza-se uma tendência que teima em caracterizar a nossa região no panorama nacional, inundando o espaço de debate público com argumentos contraditórios e surrealistas. A propaganda no seu pior.

Sobre estas situações, entrou neste mês de setembro em vigor medidas aprovadas no Orçamento de Estado 2022 e que farão diferença na vida de várias famílias portuguesas. O reforço do abono de família e a Garantia para a Infância. Visa o Governo da República, com estas medidas, potenciar uma maior proteção a crianças e jovens integrados em famílias que recebam a retribuição mínima mensal garantida. Uma almofada de apoio a muitas das nossas famílias madeirenses. Por aqui são 27.477 os beneficiários do abono de família (dados da Segurança Social) sendo que, à partida, 17.700 crianças e jovens irão beneficiar deste reforço de abono de família e cerca de 8 mil crianças serão abrangidas pela Garantia para a Infância (segundo o Instituto de Segurança Social da Madeira).

Segundo anunciou o Governo, só nesta última medida estruturante, a Garantia para a Infância, serão abrangidas 123 mil crianças e custarão aos cofres do Estado cerca de 16 milhões de euros, naquele que é o maior investimento de sempre no apoio às famílias com crianças e que irá também beneficiar os madeirenses. Mais uma iniciativa do governo PS com o objetivo de contrariar o agravamento da pobreza observado em 2021, resultado da queda dos rendimentos das famílias no ano da pandemia.

Se olharmos aos Açores, constatamos a prioridade que é dada às suas famílias, políticas socialistas implementadas desde 2016, criaram o Complemento Açoriano ao Abono de Família para Crianças e Jovens, iniciativa que ainda hoje é mantida, porque sabem a importância que tem a poder de compra entre os cidadãos para a sua economia e para uma justiça social.

Seria importante neste ponto em que o Presidente do Governo Regional afirma que “já estamos orientados”, clarificar as famílias madeirenses se pretende o PSD adotar uma medida igualmente estruturante criando um Complemento ao Abono de Família para os madeirenses ou se prefere reservar as suas receitas para medidas extraordinárias na época de campanha eleitoral. É que as necessidades dos madeirenses são diárias, não pontuais em troca de um voto.

Diz-se que está tudo “orientado” e “controlado”, mas mantemos um modelo de desenvolvimento defendido pelo executivo PSD, virado para as políticas de betão e cimento. Não estamos a reverter o quadro de pobreza, desemprego e perda de rendimentos na Região.

E pasme-se, num momento que deveriam estar a ser desenhadas medidas para ajudar as famílias, o Governo Regional decide reter 87 milhões de euros de excedente de IVA, um custo extraordinário que as famílias têm de arcar devido ao aumento da inflação.

Miguel Albuquerque diz que já está orientado… e todos os outros que governa?