Chega uma carta à cidade

Novamente comemoramos mais um aniversário da elevação a cidade do nosso Funchal. E não é que já lá vão 514 anos da nobre e leal cidade. Mas após 5 séculos de evolução e de história parece que no de Nobre cumpre intrinsecamente esses desempenhos, pois só ela ( a nobreza) consegue sobreviver com a dignidade dum verdadeiro e autêntico cidadão. No que a Leal se refere, as promessas feitas muitas delas nos últimos anos dificilmente se conseguem enumerar aquelas que foram verdadeiramente cumpridas. Não podemos enumerar uma história sem primeiro assentar numa realidade patente e bem latente nos dias de hoje. Uma cidade onde aglutina 42% da população residente da ilha e absorve mais de 60 % do fluxo da maior indústria da região; o turismo. Será que têm sido acauteladas essas características, e criadas condições para desafogar no resto do território regional todo o desenvolvimento criado na nossa cidade. Durante muitos anos sem concorrência, pois foi a única em muitos séculos da nossa existência, as suas atuais concorrentes continuam distante em atingir o seu desenvolvimento e o seu estatuto de opções alternativas. Uma cidade onde continua-se a construir sem apoiar a recuperação de património degradado, abandonado ou devoluto. Com mais e mais espaços comerciais a cada novo licenciamento, quando existem centenas de espaço construídos para fins comerciais, novos e que nunca foram utilizados, alguns abandonados, degradados, ou simplesmente encerrados, por vezes passando uma imagem deprimente a quem nos visita e que o fruto da nossa sobrevivência parte dessa atividade, por vezes parecendo uma cidade fantasma. A violência e a sucessiva imagem de sem abrigo têm sido por estes dias notícia, onde a segurança de pessoas e bens quase ultrapassando o imaginável no que muito querem continuar a designar do cantinho do céu. Adiando necessidades em favor de prioridades trocadas ou simplesmente ignoradas. Veja-se a reconstrução duma lota dentro dum porto de turismo, a não implementação do aumento do molhe de modo a termos espaço para navios de cruzeiro durante mais tempo e com maior espaço de ancoragem, com uma gare no porto um investimento que nunca teve a utilização para a qual foi construída. A falta duma segunda rampa de ferry para que as sucessivas promessas incumpridas dum ferry que servisse de transporte alternativo aos condicionalismos e necessidades prementes, optando por construir uma ciclovia para um ano depois ser destruída. A sucessiva invasão da frente mar pelo betão, descaracterizando a paisagem. E hipocritamente pretende-se convencer que o porto do Funchal deverá ser o melhor destino de cruzeiros da Europa, e que a região é o melhor destino turístico do mundo, com a asfaltagem duma estrada florestal, felizmente o tribunal deu ouvidos a uma petição pública impedindo tal atentado, ou talvez será com a modalidade de votos comprados? Mas afinal, da mesma forma que se compravam votos com espetada, vinho seco e laranjada, e que em recentes atos eleitorais por inerência da pandemia passou a ser com frangos com entrega a domicílio, querer-nos fazer crer que estamos transformando a nossa capital na Singapura da Europa, à pois! Não calha, afinal o Dubai já foi licenciado para ser implementado.

A.J. Ferreira