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Amnistia Internacional denuncia mais 48 detidos em campos de internamento na China

Foto Shutterstock
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A Amnistia Internacional divulgou hoje 48 novos testemunhos de familiares de vítimas detidas em campos de internamento na região de Xinjiang, China, para onde pessoas de minorias étnicas são levadas e ficam incontactáveis.

"Uigures, cazaques e outras minorias étnicas têm enfrentado detenções em massa, tortura e perseguições sistemáticas, organizadas pelo Estado, e que constituem crimes contra a humanidade. É evidente um número cada vez maior de famílias separadas de forma dolorosa e forçada, sem conseguirem contactar com os seus entes queridos que permanecem detidos e presos", denunciou hoje a organização não-governamental (ONG), em comunicado.

Os novos testemunhos, recolhidos no âmbito da campanha "Libertem os detidos de Xinjiang", totalizam 120 casos documentados pela Amnistia Internacional de cidadãos "arrastados para o sistema prisional e para os campos de internamento".

"Na China, na região autónoma uigur de Xinjiang, pessoas uigures, cazaques ou de outras minorias étnicas, predominantemente muçulmanas, estão a ser presas por acusações de "terrorismo" ou outras acusações falsas, por terem viajado para fora do país, por terem pagado a educação dos filhos em estabelecimentos fora do país ou apenas pela sua religião ou etnia", alertou a ONG.

A Amnistia Internacional enfatizou as "graves violações de direitos humanos em Xinjiang" e lamentou que o relatório sobre o assunto da Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Michelle Bachelett, "a ser finalizado", não tenha sido concluído a tempo de poder ser discutido na última sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

"A Alta-Comissária cessante, Michelle Bachelet, ainda tem de divulgar um relatório sobre graves violações dos direitos humanos em Xinjiang, e tem falhado repetidamente em reconhecer a gravidade das violações cometidas pelas autoridades chinesas na região", lamentou a organização, no documento hoje tornado público.

Para a ONG, "é profundamente dececionante que, devido a este atraso", não tenha sido possível as conclusões já terem sido discutidas, para que as autoridades chinesas sejam "responsabilizadas".

"Continuamos a apelar ao Governo chinês para desmantelar o seu vasto sistema de campos de internamento, acabar com todas as detenções arbitrárias, desaparecimentos forçados e maus-tratos, quer nas prisões ou noutros locais, e acabar com a sua horrível perseguição de uigures, cazaques e outras minorias em Xinjiang", frisou a Amnistia Internacional, na mesma nota.

Na opinião da ONG, "o arrastar dos pés que tem caracterizado a resposta da ONU ao pesadelo distópico em Xinjiang" é mais um insulto a vítimas e sobreviventes e "envergonha" as Nações Unidas.

Na sequência de entrevistas feitas presencialmente na Turquia a exilados familiares de 48 detidos, essas pessoas foram presas acusadas de terrorismo, "outras acusações espúrias" e há quem tenha ficado privado da liberdade "unicamente com base na sua religião ou etnia".

"Eles [o Governo chinês] querem apagar a nossa identidade, apagar a nossa cultura, apagar a nossa religião", disse o irmão de um agricultor levado para um campo de internamento em 2017, tal como a sua mulher e a sogra, Abdullah Rasul, que não voltou a conseguir falar com os familiares.

O casal, segundo os relatos recolhidos pela Amnistia Internacional, tem duas filhas, de 16 e 14 anos, e um filho, de 11.

Medine Nazimi descreveu que a irmã, Mevlüde Hilal, casada e com uma filha na altura com um ano, tinha estado a estudar na Turquia, mas, depois de ter regressado a Xinjiang, para apoiar a mãe, doente, foi enviada para um campo de internamento em 2017 e mais tarde alegadamente condenada a 10 anos de prisão sob a acusação de "separatismo", mas a familiar acredita ter sido levada apenas "porque ela é uigur".

De acordo com a Amnistia Internacional, quem fala sobre a situação fá-lo correndo "um grande risco", tendo vários membros de familiares retidos nesses campos sido "ameaçados pelas autoridades".

"As autoridades chinesas têm usado o seu estado de vigilância repressiva para tentar varrer estas violações para debaixo do tapete, mas a informação continua a infiltrar-se em Xinjiang", acentuou a ONG, no comunicado hoje divulgado.