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Jair Bolsonaro é responsável pela morte de 'petista' e casos vão-se repetir

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O analista político Thiago Trindade acusou o Presidente brasileiro de ser responsável pela morte de um membro do Partido dos Trabalhadores (PT), por um apoiante do Governo, e considerou que mais casos destes podem acontecer até às eleições.

"Eu não consigo ver como alguém pode ser mau caráter o suficiente para não afirmar categoricamente que Bolsonaro é o responsável direto pelo assassinato do Marcelo Arruda", afirmou à Lusa o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.

Apesar de não ter sido Jair Bolsonaro a disparar a arma, prosseguiu o analista, "foi ele que construiu todo o discurso".

Na madrugada de domingo, um funcionário da polícia penitenciária, em Foz do Iguaçu, cidade no estado brasileiro do Paraná, e que se assume apoiante de Bolsonaro nas redes sociais, invadiu uma festa de Marcelo Arruda, um polícia municipal, e abriu fogo contra o aniversariante.

A vítima, da liderança do PT em Foz do Iguaçu, comemorava os 50 anos na companhia de amigos e familiares numa festa temática privada sobre o ex-presidente e candidato às presidenciais pelo PT, Luis Inácio Lula da Silva, na sede de uma associação desportiva.

Um dia depois, Bolsonaro e a cúpula de apoiantes do Governo relativizaram o incidente, sendo que o chefe de Estado chegou mesmo a afirmar: "Vocês viram o que aconteceu ontem [domingo], né? Uma briga de duas pessoas lá em Foz do Iguaçu. 'Bolsonarista não sei o quê lá'".

O professor de ciência política não tem dúvidas de que quanto mais o Presidente brasileiro "relativiza essa questão, mais as pessoas que o apoiam se sentem estimuladas a praticar maus atos".

"Na campanha de 2018 ele estava no Acre [estado no noroeste do Brasil], pegou numa arma e falou: 'vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre'", recordou.

Thiago Trindade acredita que estes episódios vão voltar a acontecer: "O que aconteceu neste fim de semana no Paraná deve-se repetir até outubro, novembro", datas da primeira e segunda volta das eleições presidenciais brasileiras.

Estes receios já chegaram à liderança do PT. Dias após o homicídio, Lula da Silva participou num comício em Brasília e os participantes receberam uma série de avisos e precauções a tomar.

Não aceite provocação de 'bolsonaristas' infiltrados, se achar alguém suspeito que pareça ser uma ameaça, avise a equipe de segurança, tire fotos e grave situação de ameaça, ande em grupos até à paragem de autocarro, evite expor-se em situação de risco, foram alguns dos avisos.

O professor de ciência política partilha da opinião de vários analistas, de instituições e organizações que chamam a atenção para o facto de Jair Bolsonaro estar a inflamar a base de apoio e a criar bases para "uma invasão do Capitólio", como aconteceu nos Estados Unidos.

"Eu não acho que as eleições vão pôr fim a esse conflito. Acho que a gente vai viver um cenário muito turbulento pelos próximos meses", sublinhou.

"O Brasil está traçando os mesmo termos que os Estados Unidos, quando o Trump perdeu a eleição. Estamos indo pelo mesmo caminho", considerou, levantando uma questão: "Você consegue imaginar o Bolsonaro no 1.º dia de janeiro de 2023 passando a faixa presidencial para o Lula, fazendo uma transição de poder pacífica? Eu não vejo esse cenário".

Nos últimos meses, além de insistir que o sistema de votação eletrónica do país não é confiável, Jair Bolsonaro tem intensificado os ataques a magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF), tem dito que não respeitará determinadas decisões judiciais e tem pedido, repetidamente, a participação de militares no apuramento dos votos.

O Brasil está a menos de três meses das eleições presidenciais, para as quais o favorito é Lula da Silva, com uma vantagem entre 15 e 20 pontos sobre Bolsonaro, segundo as últimas sondagens.