Análise

“O que faz falta é acordar a malta”

Há quem se limite a “animar” na ilha das carências. “avisar” é preciso, como cantava Zeca

Se há vertente em que a Madeira sempre em festa não denota sinais de falência é na animação. Mas na Região, apenas com base nas notícias divulgadas na última semana, faltam motivos para embandeirar em arco.

Falta gente para trabalhar. Na limpeza a oferta abunda, mas como não há alternativa, a malta desenrasca-se. Grave é nas áreas de elevada especialização, na saúde e no socorro. Faltam 250 enfermeiros nos serviços de saúde, o que é deveras preocupante. Nos bombeiros, a Federação Regional pede aos governos e às câmaras para que “encontrem outros mecanismos de valorização e de compensação” para cativar voluntários. Isto porque recrutar é missão impossível. Num caso, como noutro, é evidente que são necessários reforços. Resta saber é se há vontade política e verbas para colmatar as lacunas detectadas.

Falta transparência. Do jornalismo à política, muita gente se queixa que não tem o que pede, que o governo esconde dados e listas, benesses e adjudicações. Até o Tribunal de Contas detecta irregularidades no Instituto de Segurança Social da Madeira, argumentando que faltou contabilizar cerca de 1,7 milhões de euros nas contas de 2019 e que deu 65 milhões sem qualquer controlo a várias instituições. A administração pública regional fica mal no retrato. Não estamos a falar de cêntimos.

Falta memória. Por isso, surgem os equívocos e sucedem-se os lapsos como aquele que foi proferido por Miguel Albuquerque nos festejos do pau de fileira do Savoy Residence Insular. Pedro Calado até pode ser bom a desatar nós, mas nem era candidato a autarca quando várias obras do Grupo AFA no Funchal foram aprovadas. Logo, o “engonhanço” na CMF nos tempos da ‘Confiança’ carece de melhor argumentação.

Falta dinheiro. E de repente o governo desata a reclamar 46 milhões de euros extraordinários a Lisboa, a taxar tudo o que é vistoso, a cobrar calotes com barbas e a agarrar-se aos impostos como bóia de salvação.

Falta honestidade. E o PCP é a prova de que vale quase tudo em tempo de guerra. O que leva os comunistas a propor a ‘cesta básica’ é o mesmo que motiva a subida dos preços dos bens essenciais, ou seja, Putin que tanto veneram mas omitem na narrativa habitual.

Falta policiamento. E também por isso - pois há comportamentos que derivam da falta de berço e de educação - proliferam os exibicionismos na via pública com o intuito de serem filmados e de se tornarem virais nas redes, os atentados à moral e bons costumes e a arruaça.

Falta solidariedade social. Até o simples gesto de consignar os 0,5% do IRS é um drama: 43% ainda não o faz por não tratar directamente da sua declaração contributiva ou por achar que lhe vão ao bolso e ao valor susceptível de ser reembolsado.

Falta visão estratégica. Há teimosamente quem insista em gerir a coisa pública em função dos interesses tribais e dos ciclos eleitorais, como se não houvesse amanhã e o mundo acabasse nas Desertas.

Com cantava Zeca Afonso, o que faz falta é “libertar” a malta, das anestesias colectivas, dos discursos irritadiços e das derivas institucionais. Antes convém “avisar” de modo a que muitos possam “acordar” enquanto é tempo. Porque este também escasseia.