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Dilema das escolhas

Recuse-se a gastar muito tempo e energia arrependendo-se de decisões ou culpando-se por uma escolha menos positiva

Diariamente somos assaltados com várias hipóteses de escolha. Que curso escolher, a que restaurante ir, que série da Netflix ver, que telemóvel comprar, que viagem fazer, com quem devo sair.

Os nossos antepassados ficariam assoberbados com tal manancial, assim como os nossos atuais cérebros ficam. A maior parte da evolução humana ocorreu em tempos de escassez. Um homo sapiens tinha opções restritas devido à falta de comida, à inexistência de transporte que não as suas pernas, e a poucas fontes de informação confiáveis. Era importante maximizar as possibilidades de escolha, que muitas vezes variavam entre ter algo ou não ter, de maneira a garantir a sobrevivência.

Essa exponenciação acentuou-se especialmente após a Revolução Industrial, com o aumento de produção e produtos disponíveis, e a maior capacidade de compra das pessoas. Só que este processo tem apenas 200 anos e os nossos cérebros ainda não se adaptaram a essa mudança.

A tendência em querer maximizar as possibilidades quanto estas são abundantes, e por vezes aparentemente equivalentes, pode tornar-se uma armadilha de ansiedade e angústia. É o que sucede quando ruminamos acerca de termos tomado a melhor decisão, quer seja no supermercado ou nas próprias relações pessoais, quando comparamos o que temos com o que não temos e podíamos ter, e quando tememos que se optarmos por determinado caminho estamos a perder o potencial não realizado do outro. Os anglo-saxónicos cunharam uma expressão para o fenómeno – Fear of Missing Out -, exacerbado pela comparação através das redes sociais, que nos atraiçoa por ficarmos com a perceção, muitas vezes incorreta, de que os outros estão a ter uma vida melhor, mais divertida e próspera do que a nossa.

Não se pode esperar ter uma vida enriquecedora e satisfatória através de um excesso de opções, apesar da existência destas ser bem-vinda. Limitar as nossas próprias escolhas, além de diminuir a ansiedade, aumenta o bem-estar, aceitando a inevitabilidade de que se escolho A, escolho decidida e afirmativamente também não optar por B (em vez de pensar que perdi B). A capacidade de comprometer-se com algo, de forma determinada, não nos retira a possibilidade de outras opções, mas sim dá-nos liberdade, e a possibilidade de desfrutarmos e aprendermos com as escolhas que realizamos.

Como treinar esta competência?

Pratique realizar pequenas decisões rapidamente na rotina do dia a dia. Limite o tempo em que fica a comparar especificações. Confie.

Recuse-se a gastar muito tempo e energia arrependendo-se de decisões ou culpando-se por uma escolha menos positiva. Decida aprender com o que correu menos bem e determine-se a fazer melhor.

Seja realista nas suas expetativas: não vai tomar as melhores decisões sempre, aceite essa realidade muito humana e inevitável.

Aceite e arrisque a possibilidade de uma má decisão: muitas vezes uma má decisão é melhor que uma vida de paralisia com receio de tomar decisões, porque concede-nos um espaço de aprendizagem e um caminho para evoluirmos, crescermos, conhecermo-nos, aceitarmo-nos.

Procure olhar menos vezes para trás: seja capaz de se comprometer mais vezes, de forma decidida e irreversível. Dê essa liberdade a si próprio.