A Guerra Mundo

Kiev e Ocidente acreditam que Rússia está a sofrer pesadas derrotas

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Foto EPA/OLEG PETRASYUK

As autoridades ucranianas e os serviços de informações ocidentais estão convencidos de que a Rússia está a sofrer pesadas derrotas e que o seu plano de guerra está seriamente comprometido.

Para ilustrar o argumento das perdas sofridas por Moscovo, Kiev cita a destruição de uma ponte flutuante que estava a ser usada pelas forças russas, no leste da Ucrânia.

Também hoje, as autoridades ucranianas iniciaram o primeiro julgamento por crimes de guerra, num processo que está a ser acompanhado de perto por observadores internacionais, que tentam garantir que eventuais atrocidades cometidas pelo exército russo serão alvo de sanções.

O julgamento começa quando a campanha da Rússia no coração industrial do leste da Ucrânia de Donbass faz progressos vacilantes, de acordo com as autoridades ucranianas.

O comando das forças aerotransportadas da Ucrânia divulgou fotos e vídeos do que alega ser uma ponte flutuante russa danificada sobre o rio Siversky Donets e vários veículos militares russos destruídos ou danificados nas proximidades.

Os 'media' ucranianos relataram esta semana que tropas de Kiev impediram a passagem russa pelo rio, deixando dezenas de tanques ou veículos militares danificados ou abandonados, acrescentando que os ocupantes russos morreram afogados.

O Ministério da Defesa do Reino Unido informou hoje que a Rússia perdeu "elementos de manobra blindados significativos" de pelo menos um grupo tático, bem como equipamentos usados para construir uma ponte flutuante improvisada.

"Conduzir travessias de rios num ambiente em conflito é uma manobra altamente arriscada e diz muito da pressão que os comandantes russos estão a sofrer para progredir nas suas operações no leste da Ucrânia", disse o ministério britânico num relatório hoje divulgado.

Alguns analistas inicialmente pensaram que a campanha no Donbass poderia oferecer ao Presidente russo, Vladimir Putin, um campo de batalha mais fácil, depois de as suas forças não terem sido capazes de controlar a capital ucraniana, mas agora questionam a eficiência do exército controlado a partir de Moscovo para avançar nesta região.

O chefe militar ucraniano da região leste de Lugansk disse hoje que as forças russas abriram fogo 31 vezes em áreas residenciais, na quinta-feira, destruindo dezenas de casas, principalmente nas aldeias de Hirske e Popasnianska, e uma ponte em Rubizhne, mas sem conseguirem grande progressão.

Entretanto, as autoridades ucranianas reivindicaram outro sucesso no Mar Negro, dizendo que as suas forças afundaram outro navio russo, embora não tenha havido confirmação da Rússia e não haja relatos de vítimas.

O navio de logística 'Vsevolod Bobrov' foi gravemente danificado, mas não se acredita que tenha afundado, quando foi atingido enquanto tentava entregar um sistema antiaéreo à Ilha das Cobras, disse Oleksiy Arestovych, conselheiro do Presidente ucraniano.

Em abril, os militares ucranianos afundaram o cruzador 'Moskva', da frota russa do Mar Negro e, em março, o navio de desembarque 'Saratov' já tinha sido destruído.

O apoio dos países da NATO à Ucrânia tem sido fundamental no seu surpreendente sucesso em impedir a invasão da Rússia, que também deu nova vida à aliança ocidental e pode expandir-se em breve.

Na quinta-feira, a Finlândia anunciou que iria formalizar o seu pedido de adesão à NATO, levando o Kremlin a responder com ameaças de retaliação, "técnico-militares e outras".

Em resposta à guerra, as nações ocidentais também impuseram duras sanções à Rússia -- e a indignação só cresceu depois de as alegações de atrocidades cometidas pelas tropas de Moscovo terem começado a surgir.

Em 28 de fevereiro, quatro dias depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia, o sargento Vadim Shyshimarin, 21 anos, estava entre um grupo de tropas russas que foram derrotadas pelas forças ucranianas, segundo o procurador-geral ucraniano.

Enquanto os russos fugiam, os soldados russos dirigiram-se para uma vila na região de Sumy, e Shyshimarin e este sargento é acusado agora de ter disparado sobre um civil ucraniano de 62 anos.

O assassínio alegadamente cometido por Shyshimarin é apenas um dos vários milhares de eventuais crimes de guerra que os procuradores ucranianos estão a investigar.

Hoje, num pequeno tribunal de Kiev, dezenas de jornalistas, muitos com câmaras de vídeo, compareceram para ver o início do julgamento por este alegado crime de guerra.

Shyshimarin respondeu a uma série de perguntas, incluindo se entendia os seus direitos e se queria um julgamento com júri, o que o soldado recusou.

O advogado do réu, Victor Ovsyanikov, reconheceu que o caso contra o seu cliente é forte, mas disse que a decisão final sobre quais as provas a analisar será tomada pelo tribunal de Kiev.

Shyshimarin, membro de uma unidade de tanques que foi capturada pelas forças ucranianas, admitiu que disparou sobre o civil, alegando que recebeu ordens para o fazer.

À medida que a guerra avança, os professores tentam restaurar algum sentido de normalidade, depois de o conflito ter obrigado a encerrar as escolas, devastando a vida de milhões de crianças.

Em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, as aulas estão a ser ministradas numa estação de metropolitano usada como abrigo antiaéreo, que se tornou o lar de muitas famílias.

"Isso ajuda a apoiá-los mentalmente. Porque agora há uma guerra e muitos perderam as suas casas", explicou Valeriy Leiko, professora.

Crianças em idade escolar juntaram-se a Leiko, à volta de uma mesa para receberem aulas de História e de Arte, na estação de metropolitano, onde os desenhos das crianças agora cobrem as paredes.

Uma aluna mais velha, Anna Fedoryaka, teve aulas de literatura ucraniana dadas por Mykhailo Spodarets, transmitidas 'online' a partir da garagem deste professor de Kharkiv.

A ligação à Internet foi um problema para alguns, disse Fedoryaka.

"E é difícil concentrarmo-nos quando temos de ter aulas em casa, com explosões na nossa janela", disse a aluna.