“Fartei-me do Costa como primeiro ministro”

A mensagem de Marcelo não podia ser mais clara. Costa será o único responsável pelo que aí virá. Marcelo limitar-se-á a fiscalizar e a garantir as condições que resultaram da maioria absoluta que o povo decidiu dar “a um partido, mas também a um homem”.

1. “Agora que ganhou, e ganhou por quatro anos e meio, tenho a certeza de que vossa excelência sabe que não será politicamente fácil que esse rosto, essa cara, que venceu de forma incontestável e notável as eleições, possa ser substituída por outra a meio do caminho.”. Ou seja, a margem de manobra de Costa “fugir” para a Europa a meio do mandato é curtíssima. Pode acontecer, mas não há lugar a sucessores, sem eleições, como aconteceu com Durão Barroso. E o argumento de Marcelo é forte e sem ambiguidade: Trata-se do preço “das grandes vitórias, inevitavelmente pessoais e intencionalmente personalizadas (sublinhado nosso)”, reforçando que, agora, Costa tem o que desejava: As “condições excecionais para, sem desculpas ou álibis, poder fazer o que tem de ser feito”.

2. Outro aspeto que Marcelo fez questão de realçar, e não menos importante no presente contexto, é o de que em democracia não há lugar para “poder absoluto nem ditadura de maioria”. Ora esta questão de valoração subjetiva dá, à partida, uma grande margem de avaliação a Marcelo e, se necessário, o recurso aos poderes presidenciais para assegurar a ordem constitucional no respeito pelo Parlamento e pelos direitos da oposição. Aqui estará muito provavelmente o principal foco de conflitualidade dada a personalidade do primeiro ministro.

3. Por fim, mas não menos importante, Marcelo aguarda com expectativa a chegada de um novo líder ao PSD, capaz de se afirmar politicamente, de se assumir como a oposição necessária e capaz de enfrentar sem tibiezas a maioria absoluta de Costa. Se possível, criando as condições políticas necessárias e maduras para que Marcelo possa dizer de Costa, com a necessária adaptação, o que Sampaio disse de Santana. "Fartei-me do Costa como primeiro-ministro". E cumprida a missão presidencial, não será de admirar que Marcelo tente deixar um primeiro ministro social democrata à frente do governo e “humilhar” Costa, impedindo-o de cumprir o “sonho” europeu. Seria jogada de mestre e “à Marcelo”.

Armando Ferreira Leite