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Quanto mais drama melhor

Nos últimos anos, em contexto Covid, fomos bombardeados, pela informação, que os canais televisivos nos foram obrigando a assimilar.

Da Covid à guerra na Ucrânia o cenário mantém-se, informação excessiva, repetida, sem critério. A transição da Covid para a guerra foi um salto tranquilo. A lógica é invadir as rotinas com drama. Quanto mais drama melhor. As realidades já são suficientemente dramáticas para incomodar e obrigar a refletir, esse não é o problema e o problema é a forma e não o conteúdo.

A forma é totalmente excessiva, espalhafatosa. Só a ideia da informação ao minuto é assustadora. Algo como se a vida parasse e fossemos em massa seguir ao minuto a seleção dos canais televisivos sobre temas muito sensíveis e perturbadores.

Parece que não pensam no efeito deste formato nas pessoas que em casa têm como companhia a televisão. Aquelas que não conseguem distrair-se com a vida porque não a podem viver. Esquecem-se de tantas crianças que em casa, sem o acompanhamento devido, engolem o que vem da televisão e gerem a informação, tanto quanto conseguem. Esquecem as pessoas com doença mental e/ou perturbação emocional que lutam diariamente para se equilibrar e cuja informação ao minuto sobre doenças, guerra, morte, destruição só pode agravar o seu estado e potenciar os sintomas. Para não falar de tantos outros cuja única escolha, sobretudo no horário nobre de informação, são obrigados a procurar outras soluções, nem sempre as melhores.

O sentido parece ser o da imitação gratuita do pior da informação. Os canais repetem-se nas notícias, exageram na forma de as apresentar, dando mais valor ao cenário do que ao enquadramento. Todos falam sobre o mesmo, sem que ninguém consiga acrescentar nada ao óbvio, porque de facto a maior parte das vezes não há nada para acrescentar. Quem realmente acrescenta, aparece menos e não podendo fugir ao esquema que se tem vindo a criar, tenta fugir ao espetáculo e analisar as situações com mais conhecimento, neutralidade e inteligência.

Um dos problemas é mesma a inteligência. Fica-me a sensação de que este tipo de jornalismo sensacionalista tem pouco conteúdo, é vazio de ideias. Não é inteligente.

Mas perante tudo isto a tendência está a crescer e alguns canais, que faziam questão de ser diferentes, estão a aderir ao modelo, na lógica da “guerra das audiências”. Mais vale ser mau do que ficar de fora. É legitimo?

Este modelo vai ter um fim. Tenho pena que momentos tão difíceis, vividos nos últimos anos, tenham esta cobertura jornalística. Certa de que muitos jornalistas não se identificam com este padrão, ficam-me muitas dúvidas sobre a sua permanência. O que é afinal hoje a informação?